O dia da minha morte

Hoje eu fiz uma escolha. Cheguei em casa e ela ainda era a mesma. Deixei as chaves sobre a mesma e resolvi beber um copo d’água. A cozinha, que alguém – que não sou eu – se esmera para manter limpa, continuava a mesma: os copos ao lado dos talheres e as facas brilhando, sedutoras. Um leve tremor percorreu o meu corpo. Pus o copo na pia e fui para o quarto.
Hoje eu fiz uma escolha. No meu quarto, minha cama acolheu, piedosa, meu corpo fatigado. Senti meus ossos estalarem e um suspiro encheu meu peito e escapou da minha boca com um leve gemido. Eu estava cansado. Ergui meus olhos marejados para o meu tradicional conselheiro, o teto. Como sempre, ele tagarelava sem parar. Virei o rosto. Hoje, nada do que o teto dissesse poderia me dissuadir. Principalmente por causa dos dias que haviam se passado.
Há pouco, eu saí para ver o mundo. Mal o conheço e ele já é meu inimigo. Cada vez que tento respirar, ele me rouba oxigênio. O mundo me adubou, me fez crescer e agora que começo a esticar meus galhos, ele se volta para me podar. A cada esquina, o mundo me espreita com sete pedras nas mãos. O céu segue nublado. O mundo me encara desconfiado e eu devolvo seu olhar com medo. Medo. Medo e dor. E eu não esperava mais que isso da vida, pois a vida é feita de sofrimento.
E é por isso que eu fiz uma escolha. Hoje é o dia da minha morte.
Decidi matar essa pessoa que se esconde e que se humilha. Decidi que não vou mais rastejar, mas terei a grandeza de pedir perdão. Decidi morrer como humano e cada dia ir além dos limites que dizem que o ser humano tem. Por vezes eu serei egoísta, com certeza irei mentir. Sentirei tristeza, saudade, mágoa. Guardarei rancor. E vou bendizer cada um desses sentimentos que um dia me causaram vergonha, pois eles, que fizeram de mim humano, vão me ajudar a ser mais que isso.
Se o mundo é meu inimigo, eu estarei de pé para combatê-lo. Não tenho armas, mas tenho braços, tenho pernas, tenho dentes. Tenho voz e idéias. Se nada disso me restar, tenho sonhos...e o poder da minha utopia é maior que o próprio mundo. Vou receber todas as pedras que o mundo quiser me atirar e o sangue das feridas me ajudará a entender que eu estou vivo e cada cicatriz será uma medalha. E não estou sozinho; para cada mão que me estapear, uma dezena de outras vai me afagar e me ajudar a ficar de pé. Quando o mundo me olhar, vou fazer careta. Se chover, vou brincar e cantar na chuva.
A vida é sofrimento. Mas eu sou humano, tenho direito a sofrer. E também sou mais que humano, não me curvarei perante a dor.
Hoje eu fiz uma escolha. Levantei-me da cama e fui até a janela. O vento frio me fez sorrir. Morrer ás vezes é bom. Principalmente quando se sente o sabor da nova vida que nos aguarda.




Eu fiz esse texto depois do show do Teatro Mágico, ou seja, no dia 19/02. E só hoje fui digitar, porque tinha que postar algo no blog. Preguiça nível épico... Tá um texto meio longo e cansativo, desculpem, espero que alguém tenha paciência de ler ^^
Falou, pessoas!

10 fios pro Casulo:

Mayara 5 de março de 2008 às 21:27  

o texto eh lindo, lindo mesmo...
nao eh cansativo pq eh recompensador... acabei m idenificando com ele...
aprender a levantar , msmo dpois dos "tombos" da vidaé um aprendizado contínuo, uma tarefa cotidiana q nao deve ser ignorada; caso contrario, morre-se ainda q continuemos respirando...
jah dixe e repito, ce eh o talento em pexoa.....

Anônimo 6 de março de 2008 às 06:06  

¬¬
vai carlos. te ilude que esse texto tá longo e cansativo.

Fóssil 6 de março de 2008 às 19:36  

Oras, eu achei cansativo quando li. ><

ERRATA: Logo no começo onde tem "deixei as chaves sobre a mesma" eu quis dizer "deixei as chaves sobre a mesa". É a falta de atenção ao digitar...

Unknown 9 de março de 2008 às 17:15  

ei naum ta cansativo naum!!
serio mesmo!! poxa gostei desse negovio de morte e tal...logicamente de uma forma positiva!! hahahahahahaaha

bjuss e parabéns de novo!!^^

Ana Áurea 9 de março de 2008 às 17:22  

não posso mentir,me perdi pela metade,mas tem umas coisas que eu tenho que te parabenizar Carlos '...o mundo me adubou...' isso me tocou profundamente.e fique uma dica NÃO SE MATE.

Fóssil 9 de março de 2008 às 19:07  

Ana tá preocupada comigo =D
Mas a morte é só uma metáfora no texto ^^

Márcia, vulgo Feto 10 de março de 2008 às 12:57  

A cada texto que eu leio teu eu penso: "Esse é o melhor texto que eu ja li de carlos!" Caramba onde tu vai parar?!?

"Ergui meus olhos marejados para o meu tradicional conselheiro, o teto. Como sempre, ele tagarelava sem parar. Virei o rosto. Hoje, nada do que o teto dissesse poderia me dissuadir..."
Nunca tinha reparado pro valor que o teto tem nesses momentos de reflexao sobre a cama(que pra mim sao quase diario).
Não achei cansativo pq achei envolvente. Tanto o tema, como a forma de escrever. E o desfecho ficou simplesmente brilhante...

Anônimo 13 de abril de 2008 às 17:46  

Para um texto com um título tão mórbido, serei tão paradoxa em meu comentário quanto o desenvolvimento foi para o título:

Texto "o dia da minha morte"? Empolgante.

ClaraVelha

Unknown 12 de julho de 2008 às 20:08  

nossa, salvei o texto ♥

Unknown 12 de julho de 2008 às 20:18  

salvei o texto²
muito bom 8.8