A mais bonita




Era linda. Ele procurava outros adjetivos, mas encerrá-la em palavras era criminoso e ele não tinha vocabulário suficiente para isso. Mas era linda, em todos os aspectos, e ele não conseguia se acostumar a ver ela chegar todos os dias de olhos espertos e um sorriso gigante. Ele a tomava nos braços com carinho e cuidado, mas com força, como se não quisesse mais soltá-la, como se precisasse daquele abraço com a mesma necessidade do oxigênio. Como se precisasse gravar nele a impressão da pele macia dela, sentir suas bochechas apertadas contra as suas, pra não esquecer nunca mais, pra enfrentar mais aquele dia naquele mundo que nada interessava. Pra que trabalhar, pra que estudar, do que correr atrás, se a felicidade cabia naquele abraço, naquele olhar? A felicidade estava naquele riso, naqueles filmes vistos centenas de vezes a cada dia, nas músicas repetitivas e repetidas à exaustão - dos outros, não dela. E os pulos, e as danças, e os prédios inteiros construídos no chão da sala.


É tanta sonho, tanta graça que os dias realmente se tornaram dias e não sucessões de datas. Ela o fez entender que não se sorri só com a boca e os dentes, e ele ficou extasiado quando percebeu seus olhos, seu nariz, cabelos, orelhas, estômago, mãos, todos sorrindo em coro. Ele vê a cada dia ela curar seu coração cansado ou partido.


Ele chora, porque tem medo. Sabe que o abraço dele não poderá segurá-la para sempre, porque ela tem asas. Seria outro crime amarrá-las. Ela precisa voar e ele tem medo porque o céu tem é cheio de perigos, mas tem mais medo que ela não queira mais voltar. Tem medo que o abraço dele se torne demasiado incômodo para as asas dela que já são grandes e ah, hão de ser muito maiores. Ele quer que elas sejam maiores porque asas tão pequenas não conseguirão aguentar sonhos e sorrisos tão imensos por tanto tempo. E quando ela puder abraçar o mundo, será que lembrará do abraço dele?


Ele não sabe. Mas aí ela sorri pra ele e o medo some por agora. Ele está em paz e o corpo todo sorri.




Para Maria Gabriela.


PS: Sim, o nome do post é por causa do Chico. Mas é porque quando escuto "Beatriz" também lembro da minha sobrinha =)

7 fios pro Casulo:

Fóssil 10 de maio de 2009 às 18:59  

Não que "Beatriz" também tenha a ver com ela, mas sei ´lá, eu lembro! XP

Jéssica Bittencourt 11 de maio de 2009 às 06:08  

Não solidão, hoje não, quero me retocar...

Alanna 17 de maio de 2009 às 06:37  

Nahh... quando eu tava lendo pensei que era de um pai escrevendo sobre uma filha e num é que quase acertei?
xD
adorei, Carlos.
Maria Gabriela realmente é um anjim. muito fofa ela. *-*

Márcia, vulgo Feto 17 de maio de 2009 às 14:19  

tb pensei em um pai pra uma filha. que sentimento lindo velho!!! exorbitantemente lindo!

Márcia, vulgo Feto 17 de maio de 2009 às 14:19  

tb pensei em um pai pra uma filha. que sentimento lindo velho!!! exorbitantemente lindo!

Ana Áurea 22 de maio de 2009 às 15:35  

que liiindo *-*,Carlos tu é tão 'pai'

Gabriella Barbosa 30 de dezembro de 2009 às 11:55  

Isso foi lindo, sem palavras, fofo!