Enfim, silêncio.


As lágrimas deslizaram rosto abaixo. Desviando dos obstáculos atingiram os lábios que saboreavam o gostinho amargo e salgado da dor. Dor moral, muito mais intensa do que qualquer estridente dor corpórea. Com os dedos finos enxugou os olhos inchados, limpou os óculos na bainha do pijama depositando-os sobre o criado-mudo ao seu lado. Deitou-se aninhada entre os travesseiros de seda, companheiros nesses momentos de ausência malígna. Macios preenchiam entre seus braços a falta de alguém, de algo a abraçar como objetivo. Algo no qual despejar seu tédio. A solidão prendia-a às lesões mal cicatrizadas. Macios e afáveis envolviam seu corpo encolhido em forma fetal, a qual ansiava retornar. O aconchegado aposento escuro e aguado onde anos antes descansara em plena paz.

Preenchiam a ausência de um mundo perdido em meio ao vazio. Seus passos lentos ecoavam ao longo das ruas desertas, entre os prédios altivos e a grandeza assustadora. Seus pés magros e descalços tremiam ao sentirem o frio do chão onde pisavam. Mármore no lugar do costumeiro asfalto. Ao parar, silêncio. E só. Onde? O que? O que é isso? Sonho, só pode ser. Silêncio. Só pode ser. Respira e acorda. Respira. Acorda. Acorda! Silêncio. Mas que diabos é isso?!? Alguém? Alguém?!? Que droga de sonho maldito! Silêncio. Era só o que me faltava, ficar com medo como uma criancinha idiota por causa de um sonho. É castigo todo poderoso? Juízo final? Vou ser condenada ao inferno pelos meus pecados? É isso? ALGUÉM! Silêncio. Enfim, pleno silêncio. Cala-te criatura, engole teu ego. Não é um sonho. Nem juízo final. Muito menos um todo poderoso. Quanta audácia a sua. Não é nada mais do que você mesma. Nada mais do que se tornou em prol dos teus objetivos. És tu, seca, gélida, só. Quantas conquistas! Olha a tua volta. Lindo não? Conquistou o mundo. Está ai, todo seu! Senhora toda poderosa. Não é nada mais do tu mesma. Só. Exclusivamente só. Tu e tua consciência.

As lágrimas secas marcavam seu rosto bem feito. Subitamente levantou-se em direção ao closet onde cabides pendiam vazios de um lado e super abarrotados do outro. Na parede coberta por um espelho seu reflexo estremecia ritmado com os soluços da sua dor. Dor moral, muito mais intensa do que qualquer estridente dor corpórea.
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Credo, esse texto saiu do nada. Sonhei com alguma coisa parecida de ontem pra hoje. Acordei e escrevi. Entao te fresquinho haha.

Obs: Eu e o velho estamos fazendo umas mudanças aqui... E aceitamos opiniões! Aqui quanto mais críticas melhor, quanto mais esculhambação melhor. Adoro gente que esculhamba = ) Então fiquem a vontade.
Abraços! Feto.

obs: eu fiquei até constrangida de pôr abs aqui, alguém disse que parece absorvente! hahaha

12 fios pro Casulo:

Anônimo 29 de julho de 2008 às 09:46  

Nossa que profundo :O
Pelo menos tu tem sonhos inteligentes, não é que nem eu que sonho com Pf. Sérgio Neto dando aula com uma geladeira(isso mesmo geladeira) no meio da sala.

Fóssil 29 de julho de 2008 às 20:58  

Lindo...bom, teve um hora que eu achei que tu exagerou nas indagações e o dramático desviou um pocuo pro cômico..mas foi por segundos e quando o texto recupera o fôlego é pra valer! Perfeito!

Pessoal, como ela disse, não apenas aceitamos como exigimos sugestões pra modificar o blog, porque se depender da nossa perícia com o assunto, a gente tá ferrado XD

PS: Eu sou o rei dos sonhos inúteis; já sonhei que eu acordava, levantava na cama, ia na cozinha beber um copo de suco de maracujá e voltava a dormir. Fim do sonho ¬¬"

PPS: É, Bitenk, eu falei pra ela, hauhauhahaua

Unknown 30 de julho de 2008 às 06:56  

VENEREI! Um dos melhores! Adorei a parte que o narrador começa a critic... "esculhambar" a protagonista *-*

Anônimo 30 de julho de 2008 às 17:21  

muito bom! {e eu não achei exagero a parte das indagações. tipo, é exagero, mas de fato, a maioria das pessoas é exagerada -.-}

{e fala sério, massa trocar 'comentário' por 'fio' :D)

Ana Áurea 30 de julho de 2008 às 18:03  

adoro quando Márcia escreve,adoro quando Carlos escreve tambem,mas da última vez que eu vim aqui só Carlos tava escrevendo e Márcia tava em meio a uma conflituosa crise decadente de escritora amadora hahaha
amei o texto,adoro textos assim,com esse ar de egocentrismo onisciente...muito bom mesmo...

Fóssil 30 de julho de 2008 às 20:47  

Aaah, a idéia dos fios é que os comentários ajudam a cosntruir o blog, como cada fio ajuda a construir o casulo =D

Que bom que os leitores aprovaram (oks, só uma falou, mas quem cala consente)!

Márcia, vulgo Feto 31 de julho de 2008 às 09:27  

Pro teu consolo Fóssil eu tb adorei a ideia. Gostei mesmo!

Ahhh sonhar com sergio neto...aff mary haha.

obrigada povo =)

Márcia, vulgo Feto 31 de julho de 2008 às 09:28  

egocentrismo onisciente...amei essa expressao.

Filho de Vencedor 1 de agosto de 2008 às 09:12  

Por mais que descrevesse as maiores esculhambações do mundo, por mais que relutasse em dizer que tudo isso é infértil, por mais que publicasse em revistas depravadas...no final, teria que aplaudir. Parabéns!

Unknown 24 de agosto de 2008 às 11:42  

"Deitou-se aninhada entre os travesseiros de seda, companheiros nesses momentos de ausência malígna. Macios preenchiam entre seus braços a falta de alguém, de algo a abraçar como objetivo. Algo no qual despejar seu tédio"

lembrei do lobato!!^^

bj

R.Pestana 30 de agosto de 2008 às 18:00  

só não entendo uma coisa, quem é quem?!
isso aqui tá uma baderna só!(brincando) adorei!

Gabriella Barbosa 11 de outubro de 2008 às 15:10  

Muito bom! Amei, só deu p ler agora, tava um tempão sem entrar e quando entrei caí na besteira de ler o texto da jaboticaba...aí ñ deu p continuar lendo o blog, amei o novo visual ( AMO VERDE, hahaha), ah e a idéia de fios tbm é ótima, Bjão