Das minhas utopias - conselhos pra mim, pra todos, pra ninguém


Em uma palestra, Marina Colasanti, quando perguntada sobre o Amor, falou de um gravatá que havia sobre a mesa em que estava. Ela disse que achou lindo o gravatá. Mas só quando passa a sentir amor por ele, Marina derrama um pouco da água da sua taça na planta, porque viu que o gravatá estava meio seco. O amor, segundo a escritora, é a capacidade de sentir a felicidade dos outros ser para quem ama tão ou mais importante que a sua própria – a ponto de ela preferir ficar com sede a vê-la seca.
Aí em outra palestra, escuto outra pergunta: “o que eu posso fazer para mudar a situação em que a sociedade se encontra?”.
Nem sei o que responderam pra essa pessoa – nem lembro se era ele ou ela. Pensei na pergunta. Mas o que fazer mesmo, hein? E eu faço algo pra mudar essa situação? E eu quero fazer?
Eu quero fazer. Eu faço? Sei lá se eu faço. Mas eu quero fazer, apesar de tudo. Apesar de mais e mais fileiras caindo, menos vozes gritando palavras de ordem, menos mãos estendendo panfletos, menos ainda para apanhá-los – mas sempre mais panfletos lotando latas de lixo ou, pior, emporcalhando as ruas. Estou cansado e nem iniciei minha luta. Vejo lutadores cabisbaixos e abandonando fronts. Tenho os pés doendo, dores na coluna, braços cansados, voz rouca e testa suada. Mas de pé, erguido, braços sacudindo e gritando.
Você me pergunta como lutar, eu calo. Sua luta é sua. A minha é minha. Podemos estar lado a lado na rua e nossas vozes podem quase alcançar o mesmo tom. Mas cada um de nós é um, ainda que juntos sejamos muitos em um. Eu sei de minhas capacidades e de superá-las. Ou não sei, e todo dia procuro saber. Você também precisa aprender a procurar. Mas tem um conselho que posso lhe dar – aliás, que posso nos dar. É algo que ouvi de Piaf e que sei que está dentro da sua capacidade.
Ame.
É nisso que consiste a luta. Amar. Sem amor, toda luta é vã e vazia, sem sentido, selvageria. Sem amor, a luta não vai longe. Porque você só luta de verdade por aquilo que ama, porque é algo que lhe é tão caro que você quer proteger a todo custo, algo em quem você derramaria sua taça, ainda que estivesse com sede. Só o amor fortalece a luta.
Mas amar é difícil. Quão difícil é dizer “eu te amo”? Então não vá dizendo “só isso?” quando eu lhe disser “ame”. Pelo que ou por quem você lutaria a todo custo? Amores, amigos? Sua terra? Sua Terra? Liberdade, prazer, educação? Você lutaria a todo custo pela paz?
Não, amar não é fácil. O amor é um sacrifício, o amor é um sacerdócio, como diria Chico Buarque. Amar então um desconhecido! Uma mulher que é despejada na favela. Um camponês que luta pela sua terra. Um estudante massacrado pela polícia. Um quilombola que vê sua lavoura destruída. Por que você deve amar essas pessoas?
A resposta é: não deve. Mas a luta, assim como o amor, acaba se tornando uma opção, depois de uma fase de grande arrebatamento. Se você preferir, escolha não alimentar aquele amor, ou aquela luta, ou aquele gravatá e ele vai minguar e definhar até morrer – mais dia, menos dia, mesmo que lhe doa um tanto. Então, se você escolhe, mais que lutar por essas pessoas, lutar ao lado delas, é necessário, é extremamente importante que você as ame. E alimente sua luta, a cada decepção, a cada piquete vazio, a cada corpo ou barricada que cai, alimente sua luta com ainda mais amor. Porque se o amor vive, ele se reinventa a cada dia. Mas se o amor morre, a luta morre. E eu pessoalmente, sem amor e sem luta, não seria muito diferente de um gravatá seco.

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Invertendo: isso é uma crônica, provavelmente estaria no editorial, mas por razões de ordem que discuti com Márcia, resolvi colocar em um post normal. Esse texto surgiu durante um encontro de estudantes do qual participei recentemente, mas os sentimentos e ideias que me levaram a ele estão se consolidando a algum tempo dentro de mim, graças a pessoas que todo dia me ensinam mais e mais sobre o amor e sobre luta. O texto não tá lá muito rico literariamente falando, mas tenham certeza de que fui completamente transparente e sincero nele e por isso ele tem muito significado pra mim. Espero que tenha pra algum de vocês :) Desculpem a ausência, muitas tarefas acumuladas nessa faculdade... Abraços.

9 fios pro Casulo:

Camila Castro 9 de agosto de 2009 às 21:01  

é sim. o amor e a luta...

sabe... refletindo aqui.

^^

Juliana 10 de agosto de 2009 às 05:10  

Desculpas, mas eu me apossei de um pedaço de tua luta.

Alanna 10 de agosto de 2009 às 05:12  

não é muito rico no sentido literário?! e o que é sentido literário?
não se deixe enganar pelas correntes comerciais, mundanas, parnasianas. a riqueza literária vem do amor como vc bem explicou. isso é a litetura - o grito de amor.
amar realmente é muito difícil, ainda mais quando a gente luta por pessoas que as vezes não dão a mínima para isso, mas o amor ele é contagioso e se a gente amar bastante eu acredito que conseguimos fazer os outros amarem também.
os dias que vivemos nos enxem de tarefas justamente por isso, para que não tenhamos tempo de amar e de contagiar os outros com amor.
com certeza o amor é a maior das batalhas. mas ao contrário das outras, é uma batalha que tem como princípio não machucar ninguém. ^.^
adorei o texto e por mim ele poderia ter sido escrito nas estrelas e depois ser gritado pelo vento para que toda a terra pudesse ouvir e, mais que isso, pudesse segui-lo.

O Eu Flor que sonha. 12 de agosto de 2009 às 16:28  

Sentir amor, sobretudo é lutar...buscar entendimento acima do que nos preenche de vida,
o que nos faz essência totalizada.
Talvez se pudéssemos pratica-lo acima de todas as coisas e complexidades de viver, solucionaríamos alguns tipos de dilema ao nosso redor.

*-*
Belissimo texto.
;*

angelavp 21 de agosto de 2009 às 09:07  

L-i-n-d-o!

Márcia, vulgo Feto 28 de agosto de 2009 às 20:27  

Lindo mesmo velho!
Falar de amor por si so ja é bonito, ser capaz de refletir racionalmente sem perder a sensibilidade entao é arte =) Gostei muito fossil!
E me perdoa pela demora!
Bjao

Thais 16 de setembro de 2009 às 05:43  

Pelo visto somos dois que estávamos parados por conta de forças maiores. rs

Gostei muito deste post. Uma reflxão muito bonita. Simples e sincera.

Adorei.

Beijo

Thais 16 de setembro de 2009 às 05:46  

E pois é, agora sou Thais. rs Sempre fui. Mas ainda continuo sendo Amora também. A mudança foi só porque quero começar um novo blog com a mesma conta. rs

Mais um beijo

Gabriella Barbosa 4 de janeiro de 2010 às 15:41  

O q é literário? ñ sei, apenas especulo. P mim, literário é fazer arte c as palavras. Q é arte? P mim, arte é usar o material p expressar mtas vezes o abstrato, ser transparente, colocar sua alma naquilo q expressa.C todas as minhas incertezas, especulações posso ter a convicção de uma coisa: seu texto é dos mais literários q já li. Simplesmente obrigada p lutar pelo amor, lutar pela luta de amar.