Madura inocência

Onde está o encanto? A mágica com sua irrealidade tão autêntica? As bonecas com suas historias irradiantes, os amigos imaginários e a minha incessante vontade de correr? Onde estão minhas pernas e a força com a qual sustentavam minha alma carregada de alucinações? Onde está o ser tolo e infantil?

Queria de volta minha inconseqüência tão perigosa, meu excesso de coragem. Minha inocência ignorante e cômoda. Queria aprender a desaprender o que me detém. Queria cair e me machucar, machucar a todos e não me arrepender. Queria não conhecer o arrependimento, esquecer lembranças indesejadas e não ouvir os gritos do meu inconsciente que insiste em relembrá-las. Queria reencontrar a confortável ilusão de felicidade plena, a cada instante. Deixar de olhar no futuro o buraco da derrota. Seria bom deixar de olhar para o futuro, não pensar no passado ou ainda melhor, não ter um passado. Queria não precisar vencer, não precisando lutar. Voltar a viver os dias como se fossem o únicos, mesmo sem perceber que eles realmente o são.

Preciso impedir amadurecimentos, para que endurecer nossas almas? Preciso abrandar valores, desmerecer conceitos, vangloriar devaneios. A imaginação atrofiada carece de estima. É preciso a fuga dessa limitação para o reencontro do ser tolo e infantil, que zombador escondeu-se em algum lugar.
.
.
.
A tarde de hoje tá tão bonita. Sem la ta todo mundo domindo, so o barulhinho dos meus vizinhos pulando na piscina, devem ter umas tres crianças aqui na casa ao lado. Ai lembrei desse texto que eu fiz ja faz um tempo, foi antes de eu encarar as mudanças com mais naturalidade. Agora acho que ja deu pra conciliar transformações externas e algumas verdades imutaveis daqui dentro.

Beijos a todos =)
Márcia.

13 fios pro Casulo:

Fóssil 5 de outubro de 2008 às 11:56  

Esse texto me lembrou duas coisas:

"Fields of Innocence", do Evanescence

e um diálogo de "Padrinhos Mágicos":
"Tmmy: Vocês precisam me ajudar! Eu tô grande, machucando as pessoas e incompreendido
Cosmo: Ih, ele virou adolescente!"

XD

Sério, esse é um dos teus melhores textos. Eu cheguei a pensar isso em uma breve fase da minha vida. Mas no final das contas eu percebi que era muito mais chato quando era menor e que hoje eu tô mais parecido com esse "ser tolo e infantil". Amei, Fedelha!

Alanna 5 de outubro de 2008 às 13:31  

T.T

aim... num posso ver essas coisas...

T.T

Caio Carvalho 6 de outubro de 2008 às 04:53  
Este comentário foi removido pelo autor.
Caio Carvalho 6 de outubro de 2008 às 04:57  

"[...] que zombador escondeu-se em algum lugar." Achei essa passagem formidável, e me fez lembrar de uma frase de Anton Graff: "Coitado do ser humano em quem não ficou nada da criança." Acho uma proposta instigante ( e saudável,se me permitem dizer) essa comunicação com algo da criança dentro de nós, dentro da medida correta, é claro. O Equilíbrio é essêncial, já dizia Aristóteles. Por que a infância, ao meu ver, pode ser encarada como um simbolo do questionamento, da imaginação, da excitação de uma idéia; e que tipo de ser humano consegue viver sem isto? Interessante o texto da Márcia, por nos fazer reinvidicar este equilíbrio saudável =)

Anônimo 6 de outubro de 2008 às 15:40  

Não sou intelectual o suficiente para deixa um comentário digno desse texto.Tocante.

Márcia, vulgo Feto 6 de outubro de 2008 às 16:46  

Isso! Equilíbrio, exatamente isso que eu procuro Caio. Não da pra ser totalmente criança o tempo todo, se assim fosse não teriamos construido nada, seriamos inconsequentes demais pra isso. Mas também não da pra ser prisioneiro da maturidade, afinal de contas tem coisa mais chata do que a sensatez??

Obrigada pessoas =D

Ana Áurea 7 de outubro de 2008 às 12:37  

acho que a gente sente muito isso quando sente peso nos ombros de tanta responsabilidade,é uma coisa que antes,só,não tava ali...
eu gostei muito (pra variar).

Carlos,não recebi convite em lugar nenhum do My guetto

Fóssil 8 de outubro de 2008 às 20:20  

Quando Marcos Ramon falou na palestra sobre as saudades da infância e da ausência de responsabilidades lembrei de ti, Feto =]

Márcia, vulgo Feto 11 de outubro de 2008 às 09:00  

meu deus eu me empolguei muito nessa palestra de marcos ramon! gente esse homem fala muito bem, e o pensamento dele flui tao livre e ordenado. eu quase me apaixonei por ele shaushuahsa...

Gabriella Barbosa 11 de outubro de 2008 às 15:25  

LINDO!!!!!!! Droga, vcs sempre me fazem chorar, já ia bater em Carlos por isso, agora vai sobrar p vc tbm, bjão

Gabriella Barbosa 11 de outubro de 2008 às 15:29  

rapidão... meu lado criança: Carlos, amo Padrinhos Mágicos, é o melhor da TV globinho, hahhahha

Anônimo 19 de outubro de 2008 às 12:02  

"É preciso a fuga dessa limitação para o reencontro do ser tolo e infantil, que zombador escondeu-se em algum lugar."

Perfeito!

É preciso romper de vez em quando.
De preferência sendo o que se é mesmo sem saber como. A eterna criança que não queremos perder de vista talvez nem tenha sido concebida ainda e errôneamente (em minha opinião é claro)nos apressamos em procurá-la no passado. Quando as relações de fertilidade estão bem diante de nós. Se foi ontem, se será agora ou amanhã...é o trivial. Importam as continuidades, o desejo de não deixar de ser ou o cuidado para não se perder tentando ser tantas outras coisas que no fundo já sabemos que não somos.

Interessante o texto relacionado com o comentário final. Primeiro vc diz que seria necessario impedir amadurecimentos e termina colocando o seu ajustamento às transformações externas e aquilo que permanece internamente. O que aparentemente caracteriza uma espécie de amadurecimento que geralmente chega sem nos avisar e dar muitas certezas. Algo bem contraditório...tanto quanto a natureza humana.

Caraca...já tô fazendo um outro texto em cima do teu...rsrs

Só quero terminar dizendo que fico contente por de alguma forma estar acompanhando e aprendendo com o teu processo!

bjs

Welma 4 de novembro de 2008 às 17:26  

"Minha inocência ignorante e cômoda"

Se tem uma coisa que eu adoro no filme Matrix é aquela cena que o cara tem que decidir entre a pílula vermelha e azul. O cara - assim como nós - escolhe a do conhecimento. Alguns podem até se arrepender, mas se fossem pra escolher novamente, tomariam a mesma pílula. Penso muito nisto. E sempre me lembro do quanto eu queria e quero crescer mesmo as vezes sentindo muito a falta desta inocência.
E no fundo não há como "empedir amadurecimentos" mesmo não é? Uma hora ou outra todos nós nos deparamos com as angustias desse crescer. Alguns se conformam nas quituterias da vida. Outros - muito mais corajosos perante a vida - aprendem a "encarar as mudanças com mais naturalidade. (...)pra conciliar transformações externas e algumas verdades imutaveis".
O que é melhor: compartilham!
Abraços.