Uma de nós




Ela me empurrou pro lado com aquela delicadeza carente e deitou. Se aconchegou nos meus braços finos como se eles tivessem alguma força de proteção. Queria me desculpar pelo meu eterno silêncio, por não ser capaz de lhe dar consolo. Mas é que aquelas dores se confundiam com as minhas, seria como me auto-consolar, não consigo tanto. Eu esperei que ela desabafasse, mas calou. Nem chorou. Nem nada. Talvez fosse justamente do nada que ela estivesse precisando. E era o nada que eu tinha para lhe dar. Todo o nada que muitos não tem. Uns minutos em uma rede na varanda. Uma luz apagada. A lua acesa. O vento de setembro. Com ela, minhas lágrimas secam, fico muda. Não sei explicar. Uma vez por outra é preciso se deixar ser mortal. Descansar da responsabilidade de cuidar do mundo. Ficar degustando aquela felicidade tão triste. Por um momento, eu não saberia distinguir quem era mãe e quem era a filha ali.

5 fios pro Casulo:

Anônimo 4 de novembro de 2010 às 07:47  

que coisa mais linda *-*
Jéssica Monteiro

Alanna 6 de novembro de 2010 às 11:30  

tantas vezes a gente precisa desse nada.
as pessoas tentam consolar, falar, dar conselho, acalmar, mas o que nos bastaria era o silêncio, a presença, nada.
lindo.

Fóssil 8 de novembro de 2010 às 13:12  

Quando somem parentescos, filiações, caem máscaras, vem à tona o ser humano, o ser ser humano como tu mesma bem já disseste. Nesses momentos em que se pode ver a carne crua, o âmago, a parte mais feia... ou mais bela de nós.

E eu senti isso muito forte nas tuas linhas. Lindo, Feto!

Anônimo 12 de novembro de 2010 às 22:49  

Eu tb prefiro o nada.
Me consola muito mais!!

texto bonito vaquinha, parabéns ;)

Anônimo 12 de novembro de 2010 às 22:50  

Eu tb prefiro o nada.
Me consola muito mais!!

texto bonito vaquinha, parabéns ;)

Fernanda