O labirinto e o carretel


Ele já não sabia se aquilo era o coração ou o seu pomo-de-adão, mas a garganta parecia prestes a se romper. O nervosismo fazia a saliva colar seus lábios e ele tinha certeza que sua voz estaria rouca se ele tentasse falar. Mas não havia por que ou para quem falar. Naquele labirinto maldito eram ele e aquele carretel, e a esperança (não, a certeza!) de reencontrar a princesa na outra ponta daquele imenso fio.
Havia outra certeza: ele era inocente, e os inocentes recebem proteção divina. Sua inocência não o salvou da loucura do rei, mas tinha certeza de que fora aquilo o que atraíra a atenção da princesa. Há alguns anos o rei mandara construir aquele labirinto para trancafiar uma fera monstruosa (que ninguém sabia o que era, pois ninguém nunca havia visto). O que parecia um alívio para os súditos se converteu em pesadelo quando o rei desenvolveu um estranho hobby: jogar pessoas vivas no labirinto para que, sozinhas, encontrassem o caminho de volta ou morressem nas garras do monstro. Claro, ninguém nunca havia voltado (embora um homem do reino jurasse ter visto uma figura humana com asas voando para além do mar).
O passatempo do pai não incomodava a princesa, até que ele apareceu. Quando o rapaz respondeu à convocação real, a moça sentiu sua fútil e vazia vida palaciana ser sacudida pelo desejo. À noite, procurou-o em sua cela e ali encontrou delícias. Não podia deixar morrer aquele homem.
Acompanhou-o até a entrada do labirinto e sorrateiramente lhe entregou o carretel e segredou-lhe “esse carretel é mágico. Ele parece pequeno mas se estende até o infinito. Deixe uma ponta comigo e leve a outra. Quando for sair, basta seguir a linha”. Pela condenação real, o jovem deveria andar por seis horas, a esmo, no interior do labirinto. Quando o sol iluminasse a torre mais alta do castelo, ele poderia voltar.
Encantado com o plano da princesa, o rapaz seguiu confiante pra dentro do labirinto. Andou bastante, depois decidiu se sentar. Queria deitar, mas tinha medo de dormir e ser encontrado pelo monstro. Mesmo sentado, porém, acabou cochilando.
Por quanto tempo? Quem saberia? O certo é que o sol já havia passado pela torre e por isso era melhor recomeçar a andar, dessa vez no caminho inverso, de volta para os braços da sua princesa.
A fina linha do carretel cortava a sua mão e ele suava. Quantas esquinas virara, quantas bifurcações escolhera? Passara realmente por ali? “Pare com isso”, pensou. Tinha nas mãos o carretel da princesa, bastava segui-lo. Não era hora pra distrações. Precisava focar o pensamento no colo que o aguardava e ir mais depressa, muito mais depressa. Tão depressa foi que não tardou muito a sentir que a linha não cedia. Olhou para frente. Uma esquina e encontraria sua amada.
Virou a esquina. O horror decepou-lhe o grito pelo meio. Um monstro segurava a outra ponta do carretel. E sorria, obscenamente.

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Caros leitores! Nem eu me entendo. Eu havia dito à Guria que essa semana eu não posatria nada pois estou atolado de coisas pra fazer. Acontece que do nada esse texto veio à minha cabeça e achei melhor trazê-lo à vida antes que me fugisse, como tantos outros. Estranho, mas achei ele legalzinho =] Não sei se vocês perceberam, mas ele é um amarrado de metáforas (ou pelo menos essa foi minha inteção). O que vocês acharam? Dessa vez eu gostaria de ler as viagens de todos também ;)

(meu Deus, eu praticamente não sei terminar uma sentença sem usar um emoticon. Que ridículo XP).

De qualquer modo, o texto me distraiu da minha mui grande frustração: não fui pro show da Ceumar T.T Uma das minhas cantoras preferidas por milagre vem pra São Luís (quem mora aqui sabe a dificuldade que é pra ter um show bom, nem Zeca Baleiro faz show na ilha mais =P) e eu não tenho dinheiro pra ir ver! T.T *inconsolável*

Mas C'est la vie.


Até mais ver! o/

8 fios pro Casulo:

Anônimo 15 de novembro de 2008 às 12:00  

Nossa, o Fóssil ficou épico agora! Gsotei pra caramba, só que tava estranhando o carinha não ter matado o monstro ainda. O que foi que aconteceu com a Ariadne? O monstro comeu ela?

Essa história de minoutauro me dá lembranças não muito boas.

Anônimo 15 de novembro de 2008 às 13:42  

interessante mesmo. parece um sonho daqueles que fazem vc suar.

Gabriella Barbosa 15 de novembro de 2008 às 17:38  

Caramba! De todos os textos q já li seus, esse é um dos mais profissionais...ñ sei, parece muito c livro.Deu p perceber a típica história de labirinto, o homem q faz as asas p fugir dele, o carretel...e o melhor- eu, pelo menos entendi assim: o grande monstro era a princesa, o amor q ela causava...era esse amor q fazia as pessoas se perderem no labirinto e estarem completamente desprotegidas em frente aquele monstro-vc q pediu p dizer as minhas viagens,hahahah. Ah, brigada p nenhum personagem se matar no final, muito mais feliz!

Caio Carvalho 15 de novembro de 2008 às 18:16  

Porra doido, esse final foi do caralho!!Gostosamente sinistro!Achei fantástica a imagem do sorriso do monstro em minha mente! E adorei também a temática!A foto, então, nem se fala! Sem palavras!
Acho interessantíssimo ( e divertido) seguir tuas pistas para desvendar algumas metáforas! A começar pelo título, que inclui o dito carretel mágico, o qual parece pequeno, mas se estende ao infinito, nas palavras da princesa. Me veio logo automaticamente a possível simbologia deste objeto: a esperança.Mas esta não é a mais nobre das interpretações. Há outros mistérios mais deliciosos, como a figura do rei e da relação monstro/princesa!No último encontro do casal, a pricesa disse: "Deixe uma ponta comigo e leve a outra. Quando for sair, basta seguir a linha".E com quem justamente encontramos o começo do carretel no final? (E por que só no final?). Por isso concordo com a visão de Gabriela!Mas no meu caso, os vejo como o mesmo ser literalmente! As evidências de que ambos são a mesma pessoa - ou criatura - são tentadoras!A imagem do rei,também, me instiga!Ele que joga pessoas para que sozinhas (este "sozinhas" me chamou a atenção!) descobrissem o caminho de volta! Algo me diz, não sei por que, que tem algo escodindo neste ato que vai além da crueldade! Algo que se pinta de uma áurea professoral! Mas não tenho muita certeza! Não faço nada mais do que ensaios neste comentário!
O mais legal é tentar pensar na continuação do conto imaginando que o monstro é a princesa!A surpresa desagradável de ter se apaixonado e ter tido relações com um monstro poderia vir à tona!E o prazer de ver isto na cara do protagonista pode se revelar no sorriso deste mesmo monstro!
Interessante texto, Carlos!! =D

Unknown 16 de novembro de 2008 às 10:33  
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo 17 de novembro de 2008 às 09:37  

Texto realmente interessante, me prendeu a atenção do começo ao fim. Concordo com a idéia de a princesa ser o monstro e isso me fez pensar naquela velha história de o amor ser cego, em minha visão o desejo e a paixão fizeram com que o rapaz visse a moça como a doce princesa e ao enfrentar o medo de perder a própria vida nas garras de um monstro a real face da donzela surge mostrando quão consumidor pode ser o amor. (Só compartilhando a viagem xP)
Parabéns pelo texto, fiz uma boa escolha em ser seguidora do teu blog! ^.^
;*

Unknown 18 de novembro de 2008 às 03:13  

o commentario q foi apagado ai foi pq meu pc ehh todo doido, daih fui ler oq tinha escrito e apagou sem eu saber, malz aew x)
bom... falei q o tamanho desse commentario de Caio dominou tdos os recordes... ueheuhauhae xD
e tbmm falei q eu gostei desse texto pq o final me deixou imaginando tipo oq pode acontecer depois, e nao sao mtos textos q eu faco isso... ^^
por isso q os textos aki sao boms... =)
e Carlos, tu tbmm nao ehh o unico q nao consegue mais acabar a frase sem colokar um emoticon... eu fico aguniado cmigo pq vivo fzendo isso hj em dia tbmm xD
hauhaeuheuhe

Márcia, vulgo Feto 22 de novembro de 2008 às 12:35  

Intrigante,surpreendente e reflexivo!
Estilo Fóssil =)