Fato


- É, é a vida.
- Não, não é. É a gente, toda a gente. É você, sou eu, somos nós. É aquele cara ali adiante, é aquela senhora que vai passando. É aquele esquimó, aquele angolano, aquele holandês. É aquela flor de laranjeira perfumada e aquele lótus exuberante sem cheiro nenhum. É aquele pé de caju e aquela pedra alta e lisa que a gente queria ter subido, mas não conseguiu. É aquele relógio que parou exato na hora errada, aquele afago que a gente ganhou, aquela porrada que ficou faltando. É aquela manteiga derretida no pão quente de manhã. Aquele quadro que a gente só vê em gravura de livro porque não tem grana pra ir à Paris ver no museu. Aquele esconde-esconde, aquele beijo escondido, aquele beijo rasgado na frente de todo mundo. Aquela caneta e aquele papel. É aquele zero em aritmética e aquele filme imperdível perdido no cinema. Aquele velho que morreu e virou semente. Aquele sonho que morreu e virou adubo. É essa lua, essas estrelas. É essa paz desses galhos balançando, é esse vento. É o sol. Eu não sei o que é. Só sei que não é a vida. É o que a gente faz dela.

4 fios pro Casulo:

Alanna 25 de novembro de 2010 às 13:27  

o que a gente faz dela.
é.

Márcia, vulgo Feto 18 de dezembro de 2010 às 14:07  

Já fui e voltei várias vezes, li e reli sem comentar. Tão bom de ler Fóssil! E bom de acreditar tb, ver a vida como se ela viesse pronta e nos fosse imposta é falta de sensibilidade. Perceber que o que importa são nossas ações/reações em relação ao que vem semi-pronto (pq a partir disso produzimos) isso sim é poesia =]

Lady Salieri 27 de dezembro de 2010 às 16:36  

É o que a gte não faz tb^^

Ana Áurea 17 de janeiro de 2011 às 22:28  

esse texto ganhou um espaço no meu coração e na minha agenda HAHAHA