Vermelho


Ela riu.

- Que foi?

- Nada... é que eu tava lembrando de uma coisa.

- E o que é?

Ela o fitou meio constrangida, depois voltou a cabeça para o céu.

- Uma vez eu estava conversando com um amigo e eu disse que não gostava muito do pôr-do-sol. Que me dava uma certa agonia ver o céu assim, nem dia nem noite. Eu sempre preferi não olhar pro céu durante o pôr-do-sol.

- E o que ele respondeu?

- Que eu ainda não tinha visto o pôr-do-sol com a pessoa certa.

Ele não olhou de imediato para ela. Seus olhos se perderam alguns segundos no céu crepuscular. Depois, de um estalo, apoiou um braço na grama e ergueu a cabeça para ver o rosto dela:

- Mas quando eu te convidei pra vir pra cá, tu não me disseste que se incomodava!

Ela virou o rosto para ele, sorrindo; um sorriso que sequer mostrava os dentes, mas que tudo dizia. Ele sorriu também e voltou a se deitar na grama. O céu estava muito mais belo e ele sabia que fora a aquarela dela que o fizera assim. Apertou a mão dela bem forte. A pessoa certa. Já não havia agonia no pôr-do-sol.
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É, esse também é teu.