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Depois de um mês o choro deixa de doer em desespero. Mostra-se uma calma constante. Uma dor contida escorre pelos olhos. As perguntas da última revolta ainda não foram respondidas e acredito que, em vida, nunca serão. Mas agora são indagadas por pensamentos completos e com nexo. A mente já não grita mais injúrias e lamentações. Trinta dias nos ensinam que nem todos os erros precisam de culpados. Pois é isso que a morte é, um erro de cálculo, um deslize da criação. E ninguém que me venha dizer que Deus foi desumano ao ponto de planejar esse fim sem sentido. Que é a punição pelos pecados que um embrião ainda não cometeu. E quem garante ao juízo final que eles serão cometidos? Culpados antes do crime, condenados e punidos antes do julgamento. Não se tem voz de defesa. O direito vira o dever de calar. Tudo por um fruto que eu nem pude provar. Qual o sabor do pecado?
A pior dor é que não se entende. E as explicações que me são dadas não me sustentam. Será essa a nossa semelhança, a desumanidade? Morrer é um acidente de percurso. Um imprevisto na eternidade que nos aguardava. Não faz parte dos planos da vida. Eu tento, mas não consigo ver a morte por uma perspectiva menos cruel. Não há céu que me seduza.
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"A explicação divina para a morte é simples: reciclagem de matéria orgânica." (palavras do twiiter @OCriador)
Essa frase me fez rir, resolveu parcialmente essas minhas angústias e fez meu texto parecer no mínimo desnecessário hsuahsa. Bjão pessoas :)