O meu maior medo é a solidão

O meu maior medo é a solidão. Não a solidão do teto branco do meu quarto que eu procuro às vezes; tenho medo de ficar só. Tenho medo do nada. Sou só barulho por dentro, mesmo imerso em quietude por fora, festas, mil vozes que algazarram, não me deixam dormir em algumas noites. Me incomodam em algumas noites. Mas meu medo mais profundo é que elas se calem.

Não tenho medo do abandono, não tenho medo que me deixem. Tenho medo de eu mesmo arrancar tudo e jogar fora. Arrancar todos. Tenho medo de que eu continue sempre a ferir as pessoas que eu amo, como sempre fiz, e que essas feridas se tornem tão dolorosas e essa dor tão incurável, que eles se vejam obrigados a não dar a mão quando eu estender. Tenho medo de que a minha mão penda no vácuo para sempre a próxima vez que eu quiser apertar outra mão, que eu implorar socorro, que eu mendigar. Tenho medo de que me digam “Minha paciência tem limites!” quando eu sempre andei a testar todos os limites de todas as paciências – menos da minha.

Eu tenho medo porque sei que raras vezes eu aperto a mão dos meus amores com força pra mantê-los junto de mim. Tenho medo porque não sei se eles entendem que o meu abraço mal correspondido tem o peito aberto. Tenho medo porque minha boca está sempre tão afastada do meu coração e sente tanta dificuldade em traduzi-lo... tenho medo que meus amores queiram se segurar em mim pra não se afastarem e onde eu quiser que haja troncos fortes para eles, só existam galhos secos. Tenho medo de não saber arar a terra e preparar o jardim pra que eles plantem suas sementes. Tenho medo de morrer pra eles, morrer pra vida.

São tantas as coisas que matam. São tantos os cadáveres nessa vida e tantas as mortalhas que eu tenho medo de me deixar atrair pelo seu falso brilho que, meu Deus, por vezes é tão sedutor. Tenho medo de ternos, de metais e de falas emproadas. Tenho medo do poder, dum degrau alto demais numa escada feita de isopor. Tenho medo do espelho e dessas mil máscaras que se oferecem como putas para que eu as apanhe e as use até enjoar delas e só muito depois perceber que na verdade eu me consumi – quando já não houver mais rosto para máscara nenhuma esconder.

Por isso escrevo essa confissão, na sozinhez do meu quarto (porém nunca solidão), que tenha força de oração. A vocês, meus amores: que sua tolerância continue infinda embora a minha seja tão pouca; que os abraços, os beijos, os risos e os choros continuem os mais sinceros, apesar de eu por vezes dissimular os meus; que a vida continue a ser vida enquanto vida houver; que a sozinhez nunca seja solidão; que os barulhos nunca se calem. Amém.

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Tô afastado, mas não morri! =] Até que enfim minhas férias (de uma semana e meia, mas são férias!) chegaram e cá estou eu assoprando a poeira do Casulo. O texto acima... digamos que não é totalmente autobiográfico. Uns 98% :)
Até agora, 2010 tem sido de muita felicidade! Mas vou deixar a própria Feto falar disso futuramente. Guria, parabéns! Tô muito feliz por ti!
E por vocês também, Alanna e Bittencourt!
Saudades que eu tava daqui.
Abraços!