"Mas é claro que o sol vai voltar amanhã. Mais uma vez, eu sei."

Hoje vou inverter as coisas... Esse texto surgiu de uma conversa nostálgica com minha irmã. E ele foi feito integralmente pra ela, Jéssica Braga Monteiro. Só uma forma singela de agradecer todos os sois que ela me proporcionou nesses dez anos de amizade.
Desculpem por ele ser longo demais...hehe.
Bjão pessoas.

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As duas senhoras andavam vagarosamente, não se sabe ao certo se por não terem condições de caminhar mais depressa ou se queriam prolongar ao máximo aqueles passos. Passaram um bom tempo caladas, apenas contemplando o rugido do mar e sentindo a companhia uma da outra. Mais a frente decidiram, ainda em silêncio, sentar-se num banco de madeira para apreciarem o sol, agora se pondo. Até que uma delas, a mais magra, decidiu romper o silêncio:
- Quantas vezes vimos o nascer e o poente do sol juntas?
- Inúmeras. - Sorriu a outra.
Naquele dia o sol decidiu esconder-se sob uma mancha laranja turquesa com gosto de suco de laranja. E não me venham dizer que laranja turquesa não existe e que cores não tem gosto. Naquele dia ela existiu e naquele domingo o gosto do suco das manhãs de sábado foram sentidos. Gosto de infância.
Não posso afirmar que todos o viram ou puderam sentir seu sabor, mas as duas velhas ali sentadas conheciam bem aquele pôr-do-sol, não era o fim do mundo como pensaram há muitos anos. Era apenas uma graça que o céu havia lhes oferecido mais uma vez.
Da calmaria da velhice emergiu a euforia de outros tempos e suas pernas antes tão censuradas arrastaram-nas sobre a areia. O mar em bonança deu lugar a ondas intermináveis. As mãos não mais enrugadas, as vestes não mais ajuizadas, seus cabelos em tom juvenil, o tempo em regressão.
As duas meninas correram em um impulso, tão rápido que ameaçavam cair em desequilíbrio que era restaurado pelas mãos da outra. E o vento cortante! Aquela deliciosa sensação de liberdade eterna! De poder irrestrito! De felicidade latente, daquelas que pulsa ate escapar pelos olhos. Sem falar do encontro com as águas, a chuva feita pelas mãos e pelos chutes nas ondas. Delirante euforia de outros tempos. Depois o frio. Deitadas de “papos pro ar” puderam roubar o calor da terra e surpreenderam-se com som vindo do além. As melodias que acalentavam suas conversas intermináveis. Assuntos que pendiam do vizinho à Vênus, do amendoim a Deus, do riso ao choro, dos dez anos passados aos dez futuros. E por fim a pergunta que nunca quis calar:
- Como que a gente começou a falar disso mesmo?
Lágrimas correram simultaneamente nos rostos das mulheres. Gotas tão calmas e saborosas como pingos dos chuviscos tomados na porta de casa. Tão lentas quanto as tardes e tardes nas quais não se tinha nada pra fazer. Tão densas quanto as risadas extravagantes abafadas pelo travesseiro no meio das noites. Tão salgadas quanto o mar. Tão sincronizadas quanto as danças sem compasso. Tão saudosas quanto os devaneios de criança.
- Quantas vezes mais veremos o nascer e o poente do sol juntas?
- Inúmeras. - Sorriu a outra.

Os moinhos de Dom Quixote

- Pai!
Não devia ser o primeiro, mas era de tal forma prolongado que ele não saberia dizer onde terminava um grito e começava outro. O menino berrava a plenos pulmões... e que pulmões tinha ele! O homem correu vendo o rosto assustado da mulher e chegou ao quarto do filho escancarando a porta e ligando a luz:
- O que foi?!
- E-eu... tive um sonho ruim.
Um alívio percorreu todo o corpo do homem. Preparou-se para ir embora, dizendo ao garoto:
- Não é nada, foi só um sonho. Vai dormir, vai.
- Pai, espera! Será que o senhor... poderia dormir comigo?
O pai encarou o filho, incrédulo:
- Que história é essa, agora? Tamanho marmanjo... sete anos, já! Eu não vou alimentar essa bobagem, moleque.
- Então o senhor pode olhar embaixo da cama? – e sussurrou – É que tem monstros lá.
- Minhas costas doem quando eu me abaixo, não faço isso a não ser que seja estritamente necessário – respondeu o pai, irredutível – Vai dormir.
- O senhor também tem medo dos monstros? – indagou o menino, ainda num sussurro.
- Não! – disse o pai já aborrecido – Monstros não existem! Vai dormir!
Rodou nos calcanhares para ir embora e quando sua mão chegou ao interruptor, o menino gritou:
- Pai!
Ele olhou para o filho, que disse:
- Então deixa a luz ligada?
O homem perdeu a cabeça:
- Não!
- Mas, os monstros...
- NÃO EXISTE MONSTRO PORCARIA NENHUMA! VAI DORMIR!
E desligou a luz.
"Não posso passar a mão na cabeça dele", pensava o homem enquanto andava pelo corredor escuro. Não iria criar nenhum frouxo ou pior, um boiola! Medo do escuro? Monstros? Quanta merda de uma vez!
- Não era nada – disse à mulher ao se deitar.
Lembrou-se de seu finado pai. Nunca lhe fizera acreditar no Coelhinho da Páscoa, Fada do Dente, Papai Noel, nada. Desde pequeno aprendera o que era a vida, a crueldade e a dureza da realidade. Fadas e monstros não existem. Só existe o sangue, o suor e as lágrimas. Era preciso trabalhar, muito, o dia todo, para depois cair na cama exausto e dormir sem sonhar.
Mas ele sonhava... se não conseguia sonhar à noite, sonhava acordado. Com o pó de giz flutuando na escola, na enxada que sulcava a terra na lavoura, vendo a manteiga derreter no pão quente à mesa do café. Levou tempo para que matasse essas quimeras. Era difícil contê-las com as aulas de literatura na escola, que incentivavam as recaídas. Aos 10 anos ele achava que já as havia controlado. Foi quando a professora pediu que ele lesse Dom Quixote.
Era um livro grosso, sem figuras e o menino chiou quando a professora lhe entregou aquele trambolho no meio da biblioteca pública. "Eu não vou ler isso tudo!". A mulher sorriu: "Dê uma chance ao livro. Você tem o tempo que quiser. Se mesmo assim não gostar, pode trazê-lo de volta e deixá-lo aí".
O menino podia não ser o mais voraz dos leitores, mas nunca recusava um desafio. E foi um desafio. Tropeçando na linguagem de Cervantes, vencendo cada página com grande esforço, ler aquilo parecia um sacrifício. A sua professora, porém, era sábia. Explicava as palavras complicadas e ás vezes pedia que ele recontasse o que lia com suas próprias palavras, ajudando-o sempre que precisava.
Em pouco tempo, ele já cavalgava em Rocinante com Dom Quixote. Conhecia Sancho Pança e Dulcinéia como amigos. Transformava calangos em dragões, filetes de água em rios tortuosos e um dia... um dia encontrou o moinho.
Ele não sabia que aquela estranha construção se chamava moinho de vento. Tão logo descobriu, contudo, os moinhos deixaram de ser moinhos para se tornarem gigantes. Em uma tarde, ele colocou um balde virado na cabeça, armou-se com uma vassoura e partiu para o moinho.
Na lavoura, o pai estranhou a demora do filho. Voltou em casa e a mulher lhe contou que o menino saíra com uma vassoura e um balde, provavelmente iria limpar algo. Inconformado com tal explicação, o homem saiu a indagar nas redondezas e findou por achar o moleque a atacar a base do moinho com a vassoura.
- Que diabo está acontecendo aqui?
O sangue do menino gelou
- Estou brincando, pai. Fingindo que o moinho é um gigante...
O rapaz praticamente não terminou a frase. De um safanão, o pai fez o balde voar longe e arrancando a vassoura da mão dele, começou a bater com ela nas costas do filho:
- Essas...porcarias...não...existem! – agarrou a orelha do menino e fez com que ele voltasse o rosto para o moinho – Me diz o que você vê aqui! Anda, me diz!
- Ai...um moinho.
- Quê?!
- Um moinho!
- Um moinho, não um gigante moleque! Agora, se eu te pegar com essas loucuras de novo eu te dou a maior surra da sua vida. E vamos pra roça, anda!
Com as costas e a dignidade doloridas, o menino caminhou. Haviam lágrimas no seu rosto, de fúria, de vergonha, de rancor do pai. E uma dessas lágrimas atravessou tempo e espaço e foi brotar no rosto de outro pai, em uma cama longe dali.
Esse pai levantou de um pulo, sobressaltando pela segunda vez naquela noite a sua mulher. Correu para o quarto do filho, acendeu a luz. O menino choramingava. O pai abaixou-se debaixo da cama e ralhou com alguém que estava lá, mandando ir embora. Depois levantou-se e dirigiu-se para seu quarto. Parou na soleira da porta, virou o rosto para o menino e disse:
- Filho, nunca deixe que ninguém lhe diga que moinhos de vento não são gigantes. Me perdoa, tá? Boa noite.
O menino assentiu e o pai saiu, deixando a luz ligada. O filho enrolou-se nas cobertas com um sorriso no rosto. Agora sabia que monstro nenhum iria lhe perturbar.
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Porra Carlos, tá doido, que texto grande é esse? Eu sei meu povo, mas não posso fazer nada =P (ok, eu posso, mas não quero u.u).
O blog tá meio abandonado, eu e a Feto andamos ocupados mas estamos nos esforçando ao máximo pra que isso aqui não fique parado ^^
Vocês tão assistindo "Capitu"? Espero que sim. Cara, tô amando... *_*
Então... o texto é tão grande que é melhor eu não falar mais nada mesmo =P

Hasta la vitoria siempre o/ (ridículo!)

Sem muitas perguntas

Passaram-se segundos até que ela percebera que eu a encarava e desviara os olhos encabulados. Já havia me acostumado com tais olhares, pelo menos teoricamente. Dizem que nós humanos nos acostumamos com tudo, mas eu particularmente desconfio que esse tudo seja tão abrangente assim. Eu nunca me acostumei com a pena, nem com as perguntas. Sempre achei a curiosidade humana magnífica, mas nunca havia reparado como ela é intensa. Todos que olham querem mais que apenas olhar, depois de segundos hipnotizados sempre tentam disfarçar, mas nunca conseguem. Parece uma necessidade incontrolável de saber o porquê e o como das desgraças alheias, como se isso fosse fazer alguma diferença na vida deles ou na do desgraçado.


Com ela não foi diferente, depois de abaixar os olhos chamou discretamente a senhora ao seu lado, provavelmente sua mãe, e foram para fora do quarto. Da minha cama profetizava a conversa: “O que aconteceu com ele? Oh minha filha foi um acidente de carro. Coitado...” Doía na alma cada vez que ouvia essa palavra em meio aos sussurros... Coitado. Como se atrevem a condenar-me como infeliz? Alguém já me perguntou se sou digno de pena? A pena que tantos dizem sentir não trará minhas pernas de volta, nem meus braços, meu tato, nem meus sonhos, meus amores, os odores opostos ao do detergente intragável que insistiam em passar todos os dias naquele chão o qual eu não podia sequer sentir.

Ao voltar do corredor colocou-se de costas para minha cama, como forma de obrigar-se a não olhar. Consegui ver o movimento das suas mãos acariciando a cabeleira branca do velho que ela acompanhava. Era perceptível o carinho que ela possuía por ele. Aquele senhor já estava mais para lá do que para cá. No dia anterior, sem que percebesse minha presença, pude flagrá-la junto com todos os outros pacientes do quarto aos soluços do lado do homem desacordado. Hoje com os olhos abertos ele gritava pelas pupilas a felicidade em vê-la. Naquele pequeno e choroso ser, havia algo peculiar, eu só não pude identificar o que era.

Minutos depois de muito cafuné, beijou a testa enrugada com uma delicadeza rara e saiu novamente dizendo que voltaria no dia seguinte. O velho logo se entristeceu e por mais que odiasse seu comportamento ordinário, sua pena por conta de minhas limitações sentia o mesmo e ansiava pela sua volta. Não era bonita, nem sedutora, fascinante ou algo do tipo. Não me despertava o instinto masculino que tanto me causava sofrimento, aguçava em mim uma espécie de calmaria. Não me perguntem o porquê. Mas aqueles olhos lacrimejantes que me lançaram um último suspiro antes de desaparecer no corredor permitiram que eu me deixasse levar pelo sono, e então pude descansar em paz. Sem mais perguntas.
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Olá pessoas =)
Esse texto ja tava em projeto faz um tempo, mas só hoje saiu da idéia pro papel com muitas modificações. A ideia inicial era escrever na visão da menina e não dele. Mas ai acabou saindo assim, quem sabe não escrevo depois na outra visão. Pensar com pontos de vista diferentes é divertido e ate útil, então talvez.
Sinceramente não gostei desse final, mas não saiu nada melhor e ficar mil horas pensando acaba quebrando o processo, então preferi deixar assim. Um dia surge uma idéia e ai eu modifico.

Obs: Amanhã, prova da UEMA, boa sorte e calma pra quem for fazer!
Obs: Quase um mês pro Natal e eu me empolguei e ja fiz um texto natalino, rsrs, mas só vou postar mais perto. Eu que to muito afobada. Não vejo a hora de sair por ai dando feliz Natal e Ano Novo pra todo mundo =D
Bjao povo!

O labirinto e o carretel


Ele já não sabia se aquilo era o coração ou o seu pomo-de-adão, mas a garganta parecia prestes a se romper. O nervosismo fazia a saliva colar seus lábios e ele tinha certeza que sua voz estaria rouca se ele tentasse falar. Mas não havia por que ou para quem falar. Naquele labirinto maldito eram ele e aquele carretel, e a esperança (não, a certeza!) de reencontrar a princesa na outra ponta daquele imenso fio.
Havia outra certeza: ele era inocente, e os inocentes recebem proteção divina. Sua inocência não o salvou da loucura do rei, mas tinha certeza de que fora aquilo o que atraíra a atenção da princesa. Há alguns anos o rei mandara construir aquele labirinto para trancafiar uma fera monstruosa (que ninguém sabia o que era, pois ninguém nunca havia visto). O que parecia um alívio para os súditos se converteu em pesadelo quando o rei desenvolveu um estranho hobby: jogar pessoas vivas no labirinto para que, sozinhas, encontrassem o caminho de volta ou morressem nas garras do monstro. Claro, ninguém nunca havia voltado (embora um homem do reino jurasse ter visto uma figura humana com asas voando para além do mar).
O passatempo do pai não incomodava a princesa, até que ele apareceu. Quando o rapaz respondeu à convocação real, a moça sentiu sua fútil e vazia vida palaciana ser sacudida pelo desejo. À noite, procurou-o em sua cela e ali encontrou delícias. Não podia deixar morrer aquele homem.
Acompanhou-o até a entrada do labirinto e sorrateiramente lhe entregou o carretel e segredou-lhe “esse carretel é mágico. Ele parece pequeno mas se estende até o infinito. Deixe uma ponta comigo e leve a outra. Quando for sair, basta seguir a linha”. Pela condenação real, o jovem deveria andar por seis horas, a esmo, no interior do labirinto. Quando o sol iluminasse a torre mais alta do castelo, ele poderia voltar.
Encantado com o plano da princesa, o rapaz seguiu confiante pra dentro do labirinto. Andou bastante, depois decidiu se sentar. Queria deitar, mas tinha medo de dormir e ser encontrado pelo monstro. Mesmo sentado, porém, acabou cochilando.
Por quanto tempo? Quem saberia? O certo é que o sol já havia passado pela torre e por isso era melhor recomeçar a andar, dessa vez no caminho inverso, de volta para os braços da sua princesa.
A fina linha do carretel cortava a sua mão e ele suava. Quantas esquinas virara, quantas bifurcações escolhera? Passara realmente por ali? “Pare com isso”, pensou. Tinha nas mãos o carretel da princesa, bastava segui-lo. Não era hora pra distrações. Precisava focar o pensamento no colo que o aguardava e ir mais depressa, muito mais depressa. Tão depressa foi que não tardou muito a sentir que a linha não cedia. Olhou para frente. Uma esquina e encontraria sua amada.
Virou a esquina. O horror decepou-lhe o grito pelo meio. Um monstro segurava a outra ponta do carretel. E sorria, obscenamente.

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Caros leitores! Nem eu me entendo. Eu havia dito à Guria que essa semana eu não posatria nada pois estou atolado de coisas pra fazer. Acontece que do nada esse texto veio à minha cabeça e achei melhor trazê-lo à vida antes que me fugisse, como tantos outros. Estranho, mas achei ele legalzinho =] Não sei se vocês perceberam, mas ele é um amarrado de metáforas (ou pelo menos essa foi minha inteção). O que vocês acharam? Dessa vez eu gostaria de ler as viagens de todos também ;)

(meu Deus, eu praticamente não sei terminar uma sentença sem usar um emoticon. Que ridículo XP).

De qualquer modo, o texto me distraiu da minha mui grande frustração: não fui pro show da Ceumar T.T Uma das minhas cantoras preferidas por milagre vem pra São Luís (quem mora aqui sabe a dificuldade que é pra ter um show bom, nem Zeca Baleiro faz show na ilha mais =P) e eu não tenho dinheiro pra ir ver! T.T *inconsolável*

Mas C'est la vie.


Até mais ver! o/

Natureza morta


Eu derramei uma lágrima por cada cova ali cavada. Solucei a saudade de cada família, cada mãe, cada amor, cada amante, cada dor. Estremeci por cada momento de medo e desespero. Rebelei-me por cada sentimento de desprezo. E desprezei cada réplica por tolerância. Tropecei em cada fim, por cada um.

As flores pálidas gracejavam sob o sol, suas pétalas debatiam-se contra o vento e exalavam um odor doce de paz. As árvores sombreavam meu corpo, a grama úmida amortecia meus lentos passos. O uivo do vazio era cativante, confortante. Naquelas horas que o isolamento é uma sincera companhia. A paisagem congelara e acalentando o íntimo do meu descontrole, abafou minhas lamentações.

Tua voz invadiu minha mente em forma de melodia. Em minha volta, sonhos puseram-se a dançar. A realidade adormeceu e a imortalidade despertou para me guiar nos passos ritmados da existência.

Eu chorei, e não foi por falta de sorrisos...

Não eram seres, nem corpos, nem almas. Eram a eternidade personificada em anjos que voavam tão alto e tão longe. Asas que se debatiam com o ar, transformando-o em hamônica ventania. Olhos que gargalhavam a liberdade, vozes que em coro celebravam a beleza da verdade, mãos que me elevaram aos céus e me soltaram tão alto e tão longe.
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Meio surreal, eu entendo. Mas foi um dia surreal entao perdoem =)
Bjs

Obs: Não sei bem o pq dessa imagem, teoricamente ela nao tem nada a ver com o texto, mas tudo bem.

História de asa quebrada


Para Amália Costa Abreu


Baixo, rouco, cansado. Mas inconfundivelmente um gemido. O menino virou a cabeça em todas as direções. “Ta ouvindo isso, pai?”. O pai assentiu e procurou também a origem do som. Encontrou-a, caída, atrás de um poste.
Era um passarinho com a asa esfolada. Certamente vítima de alguma briga com uma ave mais forte ou um predador ou um menino com estilingue, o maior dos predadores. Condoído, o menino aninhou a pobre ave nas mãos. Era grande, mas tão leve... ao se ver resgatado, ele abriu os olhos devagarinho e tornou a piar. “Temos que cuidar dele, pai”. O homem, que ainda se lembrava de sua época de menino, concordou. Tirou do bolso um lenço, envolveu o passarinho e lá foram os três para casa.
A palestra entre os pais foi grande. “Não temos como cuidar dele, homem! Leva esse bicho pra algum veterinário e deixa ele lá!” “Veterinários são caros, como vou pagar?”. Afinal, a mulher viu que o filho realmente se afeiçoara ao passarinho e que seria uma maldade abandonar o bichinho à mercê de sua própria sorte (que pelo visto não estava sendo das melhores). “Será filhote?” “Acho que não, olha o tamanho dele! Ao contrário, acho que ele está bem velhinho”. “Damos um nome pra ele?”. O menino, porém, não quis; disse que não precisava chamá-lo de nada além de “passarinho”.
Era verdade, porém, que eles não faziam idéia de como cuidar daquele animal. Não comia frutas, sementes e nem a ração que o pai fez esforço pra comprar. A mãe, que nunca guardava rancor e se afeiçoava rápido, ficava com os olhos marejados nas longas conversas que tinha com a ave para que comesse, como se falasse ao filho doente: “Come, senão não fica bom, não vai poder ir brincar lá fora...”. O menino, porém, passava longas horas ao lado do passarinho. Em silêncio. Os pais estranhavam; aquele menino era tudo, menos quieto! Mas tão logo chegava da escola, prostrava-se ao lado do seu passarinho e velava-o. Às vezes lhe dava comida e eram nessas raras vezes que o passarinho comia uma semente, um pequeno naco de goiaba. Mas a asa não dava sinal de movimento e os piados do passarinho eram cada vez mais desgostosos.
Um dia, antes que o menino chegasse da escola, antes que o homem voltasse do trabalho, antes que a mãe terminasse o almoço, o passarinho morreu.
Foi um choque para mãe, que se recusou a acreditar. Cutucava a avezinha, tentava levanta-la, falava com ela, inutilmente. Ligou para o pai (ela realmente se afeiçoara pelo passarinho, vejam vocês!) que se apressasse na volta para casa - ele chegava antes do filho, mas não custava prevenir. Os dois juntos pensaram sobre o que deveriam fazer e decidiram enrolar o pássaro num lindo pano de cetim azul claro, da cor do céu, e esperar o filho para sepultá-lo.
Quando o menino chegou em casa e lhe contaram o ocorrido, novo choque: o menino sorriu. Foi com os pais cavar uma covinha no quintal, ao pé de uma velha jabuticabeira, e lá eles enterraram o passarinho com todas as honras fúnebres. Terminados os ritos, o menino saiu e foi brincar na rua, como fazia todas as tardes.
Nos dias que se seguiram, os pais o observavam tensos, como se ele fosse uma bomba que a qualquer momento pudesse explodir. Mas ele vivia como sempre vivera, estudando, brincando e rindo, aquele riso gostoso de criança que sempre tivera. A mãe procurava algum vestígio de lágrima em seus olhos e não achava; o pai procurava um vestígio de soluço em suas palavras, mas era inútil. “Estou preocupada”, disse a mãe. “Bom, suponho que seja melhor do que se ele estivesse se debulhando em lágrimas, não?”, rebateu o pai. “Sim, mas ele gostava tanto do passarinho... isso não é... não é normal!”.
Para trazer sossego à esposa (e a si próprio, embora não admitisse), o pai procurou o menino. Estava brincando na rua, como f azia todas as tardes. Chamou-o.
- Filho, vocês está bem?
O menino pareceu estranhar a pergunta:
- Sim, estou, por quê?
- Bom – começou o homem, desconcertado – o passarinho morreu...
- É, eu sei...
- E você não fica triste? – disparou a mãe, sem conseguir se conter – Não sente pena dele?
O menino desatou a rir.
- Pena dele? Por quê? Agora finalmente ele pode voar!
E foi correndo brincar, ainda rindo da bobeira dos adultos.

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Eu fiz esse texto para minha avó. Ela morreu no dia 18 de outubro desse ano. Se você está descobrindo isso agora, mesmo sendo meu amigo, não se espante; só agora estou falando disso. Talvez porque eu tenha escutado demais Marisa cantar "a dor é minha, não é de mais ninguém" (bobagem, nossa dor nunca é só nossa). Talvez porque falar nisso me faça reviver toda a tristeza de novo. Não importa, só estou dizendo isso para lhes dar um conselho.

Se alguém lembrar de um texto chamado "Doce" que fiz há pouco tempo, sabe que é a história de um neto e uma avó que estava em estado terminal. Embora minha avó tenha ido pro hospital pouco depois e eu tenha me inspirado em minhas experiências com ela, não foi pra ela que eu fiz o texto, porque eu sequer sabia que ela ia mal naquela época. Mas a minha história é parecida. Eu ainda sou muito egoísta, mas eu era uma criança ainda mais egoísta e ainda por cima, um coraçãozinho de pedra. Nada me comovia e eu tinha uma dificuldade grande em demonstrar carinho. Quando eu fui crescendo e percebi a importância desses gestos, minha avó já perdera a lucidez e a memória dela estancou em uma época em que eu nem havia nascido. Ela morreu sem jamais escutar um "eu te amo" dos meus lábios.

Vocês já devem ter lido ou ouvido milhões de vezes que é importante dizer às pessoas que amamos o quanto elas nos são caras. Pois eu venho dizer de novo. Já deixei muita gente embaraçada e constrangida com essa minha mania de demonstrar meus sentimentos com tanta franqueza, mas aí está o motivo pra isso. Essa lição eu já aprendi. Por isso, crianças, não deixem de dizer que amam e se não puderem dizer, demonstrem (mas lembrem-se que nossos gestos nem sempre dizem o que achamos que dizem).

Essa história agora foi pra minha avó e, se ela puder ler isso aqui, que saiba o quanto eu a amo. É assim que eu quero imaginar: um passarinho que não podia voar com o fardo pesado que carregava, mas que agora está livre pra voar na imensidão azul.

O furto

Deixou escapar um riso quando avistou aquele ser desengonçado adentrar a sala como um bichinho assustado. Tentava passar no meio da multidão de alunos, agitados com a volta as aulas, esbarrou em umas três pessoas ate conseguir chegar a uma carteira vazia na qual jogou desajeitada as coisas que segurava. A pilha de livros pendeu pra um lado e antes que estes viessem ao chão ele estendeu os braços e os segurou. Ao vê-lo com seu material nas mãos perguntou imediatamente o que diabos ele estava fazendo. Pensei que isso fosse uma escola, aqui as pessoas não deveriam roubar os outros, seu delinqüente! Como é? Você é louca? Eu só... Não quero saber, devolve meus livros aqui, agora! E saiu lutando novamente contra a multidão ate o outro lado da sala.

Passou o resto do ano evitando a presença da “esquisita”, como os outros costumavam chamá-la. Ele não gostava desse apelido. Achava-a engraçada e ate estranha, mas era irritante ouvir o tom com o qual a chamavam. No entanto, assim como os outros não ousava chegar perto. Cada vez que seus olhares se encontravam aqueles olhos escuros transformavam-se em metralhadoras e ele se afastava. Ela o detestava, ele só não entendia o porquê. Mas também não tinha motivos para se importar, ele tinha amigos e não era chamado de esquisito por ai.

Tinha amigos e um par para a formatura, a mais desejada da escola, diga-se de passagem. Enquanto ela, ela nem ia para festa. E era por isso que chorava encolhida no canto do banheiro vazio. Tudo vazio. Tão vazio que o eco levou aos ouvidos dele o som dos soluços dela. Ao perceber que o delinqüente estava em pé na sua frente, vendo seu momento vergonhoso de fraqueza tratou de se levantar e fechar a cara o mais rápido que pôde. Era sua única forma de defesa contra aquela sensação estranha que formigava no peito cada vez que ele a olhava. Mas dessa vez ele não baixou os olhos, nem se afastou, continuou encarando-a com um olhar diferente do habitual. Não sorria debochadamente como todos, nem sentia pena, nem nada. Simplesmente estendeu a mão: Vem comigo, prometo que dessa vez não vou roubar nada.

A festa não tinha mais tanta importância assim. E o seu par já não era tão desejado como antes. Afinal, chegou a hora de viverem o que o medo, há tempos, lhes roubara.

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Meus Deus vocês não sabem como foi dificil escolher essa imagem. Na verdade nem achei a imagem que eu queria...mas tudo bem. Acho que o aroma do café me embebedou e entrei na onda do romance romântico =)

Bjao pessoas!

Epifania em uma bala de café




O som daquela embalagem abrindo geralmente era irritante mas naquele momento a alegrava. Em outros tempos, com as mãos mais firmes, ela tivera grandes dificuldades para romper aquele invólucro mas agora, sentindo as mãos fracas e trêmulas, alcançara o intento facilmente. Ainda lembrava das risadas das amigas quando ela deixava a bala cair – e isso sempre acontecia, tanto que nunca comprava apenas uma. E era obrigada a entregar, derrotada, a segunda bala para que uma das meninas abrisse, com os olhos úmidos de riso. Naquele quarto, não havia ninguém que pudesse ver o sucesso dela. Mesmo quando estava cercada de gente, todos tinham uma cegueira inexplicável para os seus sucessos, enquanto os fracassos pareciam iluminados por holofotes. Mas ela estava divagando. Naquela hora, naquele quarto, só o cheiro de café era real.
Não era incrível que uma bala tão pequena conseguisse exalar seu aroma tão fortemente por todo o cômodo? Ou seria o seu olfato que estava mais apurado? Ela sentia que todos os seus sentidos estavam se aguçando naquele instante e, mesmo com a visão turva, via tudo mais claramente do que em toda a sua vida.
Via que era estúpida. Que entregara seu amor à quem não o merecia. Como em um filme, via a si própria como escrava da mãe, brinquedo do pai e capacho das colegas de escola. Ela que sempre andara tão longe da felicidade, acostumara-se àquela vida como se fosse o mais próximo que pudesse chegar de ser feliz. Até conhecê-lo.
Não queria admitir nem para si mesma, mas era por causa dele que estava ali. Ele trouxera novamente esperança pro seu espírito e ela descobriu uma felicidade viciante e embriagante como aguardente. Ela sentia tanta falta daquela bebida, aquela bebida que só os lábios dele, o peito dele, os braços dele poderiam lhe dar. Ir para casa era uma tortura. Um choque de realidade. Alice abandonando o país das maravilhas.
Naquela manhã, poucas horas antes, porém, o país das maravilhas desmoronara. Chegando mais cedo à escola ela vira o seu amado falando debochadamente em um grupo de amigos:
-... Mania de chupar bala de café! Se ela soubesse como odeio aquele bafo nojento! Só vou ficar com ela até ela fazer o trabalho de história pra mim e aí tchau! Também não suporto mais que isso...
E o paraíso pereceu nas chamas do inferno.
E o inferno era amargo como café, mas sem a doçura da bala. E aquela bala de café era o epitáfio daquela que ela acreditava ser a sua última chance de ser feliz. A única vez em que foi tratado com gentileza, que se sentiu amada. A não ser...
Sim, naquele momento em que sua visão turva via claramente ela lembrava de algo no meio da dor, da raiva e da vergonha. Não era aquele menino que ouvia a declaração do seu ex-amor? O que ele dissera?
“Pois eu adoro o gosto de café”.
Sim! Que tola era fora! Havia ainda uma chance de ser feliz! Agora tudo estava claro! Deixara o amor escapar, mas não o faria de novo. Haveria tempo ainda? Claro que sim. Para o verdadeiro amor sempre havia tempo, ela lera uma vez.
(Mas realmente não havia mais tempo. A sua turva visão se escurecia. E o sangue que escorria dos seus pulsos se avolumava em poças, sob a embalagem da última bala de café).




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A respeito da "demora": desculpem. A respeito do texto: idem. E também, blargh, voltei aos textos melosos XP. A respeito da Feira do Livro: muito legal, mas eu tô liso. De novo o/




huahuahauhaua




Hasta la vista, baby!


(porra, essa foi a pior =P)


PS: CARA, como vocês fazem pra achar imagens legais (Márcia e todos os blogueiros que lêem isso aqui)? Olha que coisa triste essa imagem aí do texto! Eu definitivamente não sirvo pra fazer marketing XP
PPS: Melhorou agora, Alanna? =D

PPPS: O acento de "lêem" foi abolido, né? T.T

Madura inocência

Onde está o encanto? A mágica com sua irrealidade tão autêntica? As bonecas com suas historias irradiantes, os amigos imaginários e a minha incessante vontade de correr? Onde estão minhas pernas e a força com a qual sustentavam minha alma carregada de alucinações? Onde está o ser tolo e infantil?

Queria de volta minha inconseqüência tão perigosa, meu excesso de coragem. Minha inocência ignorante e cômoda. Queria aprender a desaprender o que me detém. Queria cair e me machucar, machucar a todos e não me arrepender. Queria não conhecer o arrependimento, esquecer lembranças indesejadas e não ouvir os gritos do meu inconsciente que insiste em relembrá-las. Queria reencontrar a confortável ilusão de felicidade plena, a cada instante. Deixar de olhar no futuro o buraco da derrota. Seria bom deixar de olhar para o futuro, não pensar no passado ou ainda melhor, não ter um passado. Queria não precisar vencer, não precisando lutar. Voltar a viver os dias como se fossem o únicos, mesmo sem perceber que eles realmente o são.

Preciso impedir amadurecimentos, para que endurecer nossas almas? Preciso abrandar valores, desmerecer conceitos, vangloriar devaneios. A imaginação atrofiada carece de estima. É preciso a fuga dessa limitação para o reencontro do ser tolo e infantil, que zombador escondeu-se em algum lugar.
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A tarde de hoje tá tão bonita. Sem la ta todo mundo domindo, so o barulhinho dos meus vizinhos pulando na piscina, devem ter umas tres crianças aqui na casa ao lado. Ai lembrei desse texto que eu fiz ja faz um tempo, foi antes de eu encarar as mudanças com mais naturalidade. Agora acho que ja deu pra conciliar transformações externas e algumas verdades imutaveis daqui dentro.

Beijos a todos =)
Márcia.

Doce


- Alguém me diga o gosto das jabuticabas...
Vinha repetindo isso há dias e, naquele dia em particular, há horas. Havia uma agonia profunda em cada ruga daquele rosto envelhecido. Os longos cabelos brancos, outrora penteados com esmero, agora se espalhavam, desgrenhados, pelo travesseiro. A filha única sofria impotente com a dor da mãe (por que aquilo não acabava de uma vez?). O único genro se compadecia da esposa e olhava com tristeza a mulher que o acolhera tão gentilmente se desmanchar em devaneios febris. A neta mais velha saíra da escola correndo para chamar o médico, mas nada podia ser feito e ela sentia o gosto salgado das lágrimas retidas, que segurava por causa dos pais. Os três então rezavam. Porque sabiam que era a única coisa a fazer. Não para salva-la, mas para trazer conforto (resta saber a quem).
- Alguém me diga o gosto das jabuticabas...
Só um membro da família tinha as mãos livres. Ao neto mais novo tinha sido ordenado que fosse para o quarto e dormisse. Mas nem era noite ainda! O menino então parara à porta do quarto da avó e olhava estarrecido a cena que se passava ali. E o que significa aquela cena? Por que seus pais e sua irmã estavam de mãos dadas enquanto sua avó gemia? O gesto o fez recordar outra cena, de quase um mês antes, e das mãos dos seus pais também atadas, enquanto a mãe dizia algo entre lágrimas.
- Alguém me diga o gosto das jabuticabas.
A verdade lhe atingiu como um tiro seco. Vovó estava morrendo.
E onde estava a tristeza de todos, porque ele não sentia? No alto de seus seis anos, o garoto não conseguia se recordar de outra avó que não fosse aquela, senil. Avó, aliás, que sequer sabia da existência do neto. Neto que, ainda assim, era obrigado a abraçar, beijar e até amar alguém que não lhe conhecia.
A velha parecia na verdade estar alheia a tudo. Como era nojento vê-la comer! A mãe que antes dava a comida para ele na boca, agora tentava enfiar algo pela garganta da avó, que babava e regurgitava boa parte de tudo o que havia no prato (ele era muito mais educado). Tudo era tão cômodo para aquela mulher que ele chegava a se perguntar se tudo não passava de encenação; afinal, mesmo naquele mundo etéreo onde ela parecia viver, ainda se incomodava com o menor barulho que ele pudesse fazer, obrigando o garoto a passar tardes inteiras sem brincar, porque não raro a mãe também o proibia de sair porque “precisava ajudar a tomar conta da vovó”.
- Alguém me diga o gosto das jabuticabas...
Visivelmente a contragosto, ele ia. Em uma dessas tardes, havia lágrimas de raiva brilhando nos olhos dele. Não era uma tarde qualquer; todos os seus amigos iam para a casa de Joaquim, que comprara um videogame novo. Pois a mãe não cedeu mesmo a esse argumento.
- Sinto muito filho, mas precisamos cuidar da sua avó. Sua irmã e seu pai não estão.
- Mãe, por favor, eu cuido dela qualquer dia, mas hoje não!
- As coisas não são assim! Ela precisa de cuidados hoje e você vai me ajudar. E ponto final!
A velha estava sentada em uma cadeira de palha ao lado da janela olhando sonhadoramente para o horizonte. Muito rápido, antes que ele pudesse refrear, ele desejou que ela morresse. Se ela estava quase, porque não ia de uma vez? Só servia para fazer mamãe chorar e brigar com ele. E babar e jogar comida fora e gemer. Nem chorar sabia mais. E ele, que odiava dar aos outros o gosto de lhe verem chorando, derramava lágrimas em frente a avó.
Talvez fosse vergonha por tudo o que pensara, ou só raiva mesmo. Mas ele chorava. E soluçava. O barulho a fez virar a cabeça lentamente, o sol dourando os cabelos prateados. Ela então lhe sorriu um sorriso fantasma, e ele descobriu que ela tinha o sorriso mais doce e os olhos mais ternos que ele conhecia. O menino então correu e chorou copiosamente no colo da avó, que ainda tinha o olhar perdido em frente. Mas pousara a mão trêmula e frágil sobre a cabeça do neto caçula. E agora ela sofria. E outra verdade o atingiu.
- Alguém me diga o gosto das jabuticabas...
Pé ante pé, ele foi até a porta da sala e abriu-a devagar (nunca antes aquela porta abrira sem ranger). Tão logo se viu fora da casa, correu. Aquilo que procurava estava fora da propriedade do sítio, mas ele sabia exatamente onde estava. Por isso correu, para além da porteira, levantando nuvens de terra, o céu virando sangue e a respiração sólida, como sólido era o pensamento em sua avó.
Tão sólido esse pensamento que se assustou ao perceber que as pernas o tinham levado aonde queria mais cedo do que pensara. A pressa se esvaiu. Subiu na árvore com calma (sorte acha-la tão carregada), puxou uma fruta do tronco e pôs na boca. Mordeu, cuspiu fora o caroço e deixou o sumo invadir a língua, pensativo. Subitamente, entendeu. Sorriu e apanhou mais algumas.
- Alguém me diga o gosto das jabuticabas...
A voz implorante se convertera num sussurro rouco. Não iria tardar agora. E por isso os pais e a irmã olhavam assombrados o menino que entrava no quarto. Parecia constrangido, mas determinado. Estava sujo e suado, a boca e as bochechas meladas. O pai tentou levá-lo para fora, mas ele se desvencilhou. Ajoelhou-se ao pé da cama e chamou suavemente:
- Vovó...
Assombrando ainda mais a todos, a velhinha virou o rosto cheio de dor na direção do neto. Ele aproximou os lábios do ouvido dela e disse algo para ela, e somente para ela. Um sorriso emergiu nas feições da avó (o sorriso mais doce e os olhos mais ternos que ele já vira) e ela assentiu. Depois virou a cabeça para o lado, suspirou profundamente e fechou os olhos para sempre. Enfim, em paz.

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Acho que vai ser mais difícil pros leitores se identificarem com esse porque eu fiz baseado em coisas bem pessoais. Além disso, tá muito comprido X.X. Mas enfim, ei-lo aí =]

PS: Agradecimentos a Thaís que foi a primeira que leu (porque eu fiz na hora da aula, hehe) e disse que gostou XD Se vocês não gostarem, reclamem com ela.

Falou o/

A Maria e a outra


Com os passos apressados, Maria desceu o último degrau da escada e se dirigiu à sala-de-estar. Beijou os rostos dos seus pais, fechou o punho sobre uns bolinhos de queijo e correu cambaleando com o peso dos livros em direção à garagem onde o motorista já a aguardava. Contornado o jardim, ele acelerou em prol dos pedidos frenéticos da menina por rapidez.

Tão ou mais apressada, uma outra Maria também corria, com umas das mãos amparando a pesada barriga e a outra acenando com os braços estendidos. Porém, o seu pedido não fora atendido. O ônibus partira segundos antes e não parara. O jeito seria esperar pelo próximo, o que significa que perderia o primeiro horário, isto é, se hoje houvesse primeiro horário.

Às nove e dez, ambas se dirigiram aos pátios de suas respectivas escolas. A primeira esperou alguns minutos na fila e comprou seu lanche de sempre. A segunda recebeu o lanche primeiro, era norma da direção, grávidas não enfrentavam a fila. O salgado não estava bom como de costume. A gororoba esverdeada lhe deu náuseas como de costume, mas nada pior que a fome que sentia. Maria livrou-se do resto do salgado na lixeira, enquanto a outra Maria livrava-se das náuseas no banheiro ao vomitar.

Após o término das aulas, Maria não esperou muito até o motorista chegar e ambos seguiram para casa. Duas quadras adiante, o sinal vermelho obrigou-os a parar e um grupo de jovens mal vestidos investiu sobre os carros pedindo uns trocados. Entre eles, a outra Maria surgiu, dirigiu-se ao carro preto e se preparou para mais uma arrogante recusa.

Ao se encararem, o espanto. O vidro do carro preto fora abaixado e os olhos redondos e sacados de Maria encararam os olhos redondos e sacados da outra Maria. Eram os mesmos olhos, os mesmos nomes. Entretanto, o que viam e representavam era incrivelmente paradoxal. Idênticas e ao mesmo tempo opostas. O sinal abriu, o motorista acelerou, e como de costume Maria foi e a outra Maria ficou, como se nada houvesse acontecido.

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É uma redação... Bateu a doida na prova e escolhi fazer narração (eu sempre faço dissertação) . É muito mais feliz fazer uma narração numa prova, a gente se sente mais livre, não tem todas aquelas preocupações com tese, argumentos, conclusão... Aff isso é um saco, a gente não tem nem liberdade pra escrever do nosso jeito. Eu sei que tem que ter um certo padrão pra correção e tal, mas continua sendo chato. Toda vez que eu vou me empolgar em dissertação acaba ficando subjetivo demais... Mas tudo bem. Espero de vcs gostem...tava morrendo de medo de Marineis (professora de redação) não gostar!


obs: Desculpas pública pra Aninha, hee, eu disse que ia postar ontem e postei hj =)

obs1: Agradecimento público pra Aninha tb, pelo cd que ainda nao me deixaram ouvir todo mas que ate agora ta divino!!

obs2: Toda vez que eu escrevo aqui, meu coração bate mais forte... Que merda shaushuahsa. Mas é sério eu fico euforia e não consigo parar de escrever... Mas voltando pra vida, vou me arrumar pra aula ¬¬

Bjao pessoas =D

Márcia.

Um balão


Cesta de vime e pano remendado com meus amores
Fogo aceso dos meus sonhos e paixões
Dores enchendo os sacos de lastro
Deus soprando

... e lá vou eu flutuar pela vida...

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Nada a ver né? Eu ia postar outra coisa, mas isso aí me ocorreu nessa horinha justa que eu cliquei em "Nova postagem". Como eu tava com preguiça de digitar o texto que eu fiz, juntou o sono com a vontade de deitar e resolvi postar isso aí antes que a vergonha volte pra minha cara. Não sei quem vai ser o próximo a postar, mas eu prometo criar coragem e digitar o texto pra na próxima vez postar algo melhorzinho que esse negócio aí em cima. Os ocasionais leitores merecem =]

That's all, folks!

Algemas


Raquel mal abriu os olhos e as pontadas nas têmporas já se apresentaram prontamente. Eficientes lembretes dos incontáveis copos de Martini que se divertira tomando na noite anterior. Antes de poder interligar os flashes que acendiam na sua memória se assustou ao perceber onde estava. Não é possível! De novo não! Mas que droga!

Seu vestido curto e exótico encolhido num canto. Seu corpo nu sob os lençóis amarelos claro. O inconfundível cheiro de creme de barbear. Seus sapatos “babelônicos” um em cada extremo do quarto. Seus pés emaranhados com as pernas dele. Perversas pernas. Como conseguiam abranger tanta sensualidade? Não conseguia avistar o resto dos seus acessórios. Precisava se vestir e ir embora antes que ele despertasse, não suportaria o olhar inconseqüente daquele verme sedutor mais uma vez. Por que não conseguia simplesmente resistir? Ela o odiava! Por que o amava tanto? Maldito! A decepção de um alcoólatra com ressaca invadiu sua cabeça ignorando a dor nas têmporas. Sentia-se fraca, incapaz. Uma idiota. Ele não a merecia. Mas ela o queria incessantemente. Que inferno! Ainda dizem que o amor é lindo. Ah, aquilo tava mais para prisão perpétua.

Afastou o braço com o qual ele entrelaçava sua cintura. Sentia arrepios ao tocá-lo. Ameaçou se levantar, a cama rangeu. Prendeu a respiração e sentou-se. A tontura a obrigou a respirar fundo novamente. Recolheu sua roupa e foi para o banheiro se vestir. Lavou o rosto, prendeu os cabelos evitando fitar o espelho, também não suportaria seu olhar covarde. Dessa vez não esqueceria nada, assim não teria desculpas para voltar. Precisa se certificar que ele não estaria nas festas que fosse daqui para frente. E beberia menos, ficava ainda mais vulnerável quando embriagada. Além de que só assim se livraria daquela dor de cabeça insuportável.

Ao sair do banheiro deu de cara com o quadro que tanto odiava. Ele insistia em estar sempre lá, perfeitamente equilibrado sobre a parede branca, testemunha dos momentos relâmpagos que passara ali. O homem pintado a tinta óleo fuzilava-a com o olhar severo e acusador. Ele sempre a ouvia jurar e quebrar suas juras. Era humilhante. As duas mulheres perfeitamente pintadas o cercavam implorando por sua atenção. Enquanto ele continuava a encará-la. Você tem que escolher uma das duas! Mas não havia como apagar uma das sedutoras mulheres da pintura. Canalha.

Percorreu o caminho até a saída como se aqueles poucos metros tivessem dimensões “maratonísticas”. Ao segurar o trinco sentiu a incontrolável vontade de olhá-lo mais uma vez. O anel reluzia na sua mão esquerda pendurada para fora da cama. Bateu a porta com tanta força que a sentiu tremer. Um estrondo denunciou a quebra do perfeito equilíbrio dentro do quarto. Ainda chegou a ouvir aquela voz malignamente atraente chamando-a. Mas o elevador já havia se fechado e já era hora de apagar-se daquela patética pintura dadaísta.
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Esse aí surgiu do nada. Mudei de canal vi uma cena de um filme qualquer e ai escrevi = ) Só que como só vi um pedacinho tive que inventar umas coisas. Me empolguei muito escrevendo isso. Exorbitantemente. Era pra ter postado desde de domingo mas não tinha conseguido termina-lo.
Obs: O velho ta se achando pq ta na faculdade! shauhsuahsa.
Obs1: Velho eu só lembro de ti ligar depois das nove...me recuso a liar pros outros na hora da novela. Mas eu vou ligar!
Obs2: Eu e o Fóssil juramos que um dia a gente faz os perfis! hee. Um dia...
Obs3: Adoro sair procurando imagens por ai que tenha a ver com o texto =D super divertido.
Bjão povo!

Fragilidades


Antes de ser jogado nesta caixa, creio que me cabe o direito de desabafar. Não sei por que estás tão surpresa, costumavas conversar comigo o tempo todo... Você, que hoje me considera tralha, esquece que um dia eu fui o sonho de uma pessoa, bem antes de ser o seu. Essa pessoa tão generosa quis dividir o sonho dela justamente contigo. Pena. Não se joga em uma caixa o sonho de alguém.
Você ri do tempo em que precisava de mim. Vê a ti mesma como tola naquela época e eu só enxergo uma tola agora. Não eras tola, só feliz. Se for assim, mil vezes a tolice e insensatez, mas com um sorriso nos lábios.
Tolo apenas eu. Deixei que me tratasse como o objeto que nunca fui. Suportei espasmos de raiva e de alegria, suportei ser puxado, rasgado, quebrado, desmembrado e até deixado de lado por algum tempo. Eu sempre tinha a certeza de que irias me pegar de volta; e costumava ser assim, até que as tuas ausências se tornaram mais constantes e duradouras, para o meu completo desespero.
Eu provei do teu amor, mas entreguei o meu próprio além do que devia. Tu ficaste mais forte com ele e eu, sem nada para substituí-lo, fiquei vazio e fraco. Não tenho voz a não ser que dêem corda, não posso andar se não mexeres minhas pernas, não enxergo se não abrires meus olhos (lembras que um dia amaste estes olhos azuis?). Por isso, agora, a caixa.
Mas preciso agradecê-la; finalmente estás fazendo com que eu substitua o amor que havia em mim por algo novo, que eu jamais pensei que sentiria. Não sou mais tão oco e por isso criei voz para lhe dizer.
Vai. Mas lembra que um dia destes os primeiros passos comigo. Antes de cada amante, de cada língua em que encostares a tua, de cada cama em que venhas a te deitar, antes mesmo do teu primeiro filho, lembras que fui eu que te ensinei a amar. Eu fui colo de mãe, ouvido de melhor amigo, face esbofeteada de amor partido. Mas como seguravas as cordas que me manipulavam e sustinham, alguém vai segurar as tuas. Porque eu te ensinei a amar, vais fazê-lo da mesma maneira que eu. E serás jogada em tanta caixa que um dia, no limbo, lembrarás de mim com saudade e mágoa. E haverás de chorar – sem meu corpo de tecido para esconder e enxugar tuas lágrimas.
E eu poderia sentir muito por isso, se não tivesses me ensinado também. Tudo o que em mim era vazio agora se enche de indiferença.
Eu te condeno irremediavelmente ao remorso.
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Eu tinha prometido a mim mesmo que não ia postar dois textos piegas seguidamente. Mordi minha língua.

PS: Dica para todos nós: ninguém (nem mesmo os brinquedos) merece ser tratado com objeto.

PPS: Como diria Latino, "quem planta sacanagem, colhe solidão"

PPPS: Ignorem o PPS XP


O novo formato do Casulo já está quase pronto, graças aos esforços conjuntos da sua dupla de Tecedores mais a ajuda incalculável de Alanna Correia! Muito obrigado, pequena! Te amo, saudades. ^^

Esse primeiro semestre passou muito, MUITO rápido. Até demais T.T

Esse post deveria ter sido do Feto no domingo, mas ela se enganou e acabou postando um texto repetido (essa é a velha Márcia XD). Então depois que passar o vestiba da UEMA, ela deve postar algo pra nossa alegria geral =D Aguardem.

Aliás, por favor, energias positivas e orações pra ela e pra todos os meus amigos que vão prestar vestibular :D Boa sorte galera!


"No mais, estou indo embora"

Esclarecimentos

Olha só, não sei tem alguém entrando no blog esses dias, mas se tiver, deve ter percebido como as coisas mudaram aqui. O blog tá assim, meio "pelado", por artes desse jumento que atende por Carlos. Sabe como é, Fóssil, não tá acostumado a tecnologia, fui tentar mudar o template do Casulo e apaguei tudo e não consegui colocar de volta os elementos de página. Aí mudei de volta pra um template padrão do blogspot. Só que refazer tudo com a minha internet discada é crudelíssimo, então aguardem até o final de semana e o Casulo estará de volta e com novidades!

Estamos fazendo o melhor pra deixar o Casulo com a sua cara! =D

(mentira XP)
(e ainda por cima é coisa de TV Xuxa isso, que merda XP)

E pra não passar em branco (como de praxe), um poema, que na verdade é uma música. Esqueci o nome do compositor (o/) mas ela foi interpretada no álbum "Vagabundo" por Ney Matogrosso & Pedro Luís e A Parede (por sinal eu tenho escutado bastante, muito bom o álbum). E acho que é muito boa pra se falar do trabalho do "fazer literário". Aproveitem ;D


Transpiração

A inspiração vem de onde?
Pergunta pra mim alguém
Respondo talvez de longe
De avião, barco ou ponte
Vem com meu bem de Belém
Vem com você nesse trem
Nas entrelinhas de um livro
Da morte de um ser vivo
Das veias de um coração
Vem de um gesto preciso
Vem de um amor, vem do riso
Vem por alguma razão
Vem pelo sim, pelo não
Vem pelo mar gaivota
Vem pelos bichos da mata
Vem lá do céu, vem do chão
Vem da medida exata
Vem dentro da tua carta
Vem do Azerbaijão
Vem pela transpiração
A inspiração vem de onde, de onde ?
A inspiração vem de onde, de onde ?
Vem da tristeza, alegria
Do canto da cotovia
Vem do luar do sertão
Vem de uma noite fria
Vem olha só quem diria
Vem pelo raio e trovão
No beijo dessa paixão
A inspiração vem de onde, de onde ?
A inspiração vem de onde, de onde?

Enfim, silêncio.


As lágrimas deslizaram rosto abaixo. Desviando dos obstáculos atingiram os lábios que saboreavam o gostinho amargo e salgado da dor. Dor moral, muito mais intensa do que qualquer estridente dor corpórea. Com os dedos finos enxugou os olhos inchados, limpou os óculos na bainha do pijama depositando-os sobre o criado-mudo ao seu lado. Deitou-se aninhada entre os travesseiros de seda, companheiros nesses momentos de ausência malígna. Macios preenchiam entre seus braços a falta de alguém, de algo a abraçar como objetivo. Algo no qual despejar seu tédio. A solidão prendia-a às lesões mal cicatrizadas. Macios e afáveis envolviam seu corpo encolhido em forma fetal, a qual ansiava retornar. O aconchegado aposento escuro e aguado onde anos antes descansara em plena paz.

Preenchiam a ausência de um mundo perdido em meio ao vazio. Seus passos lentos ecoavam ao longo das ruas desertas, entre os prédios altivos e a grandeza assustadora. Seus pés magros e descalços tremiam ao sentirem o frio do chão onde pisavam. Mármore no lugar do costumeiro asfalto. Ao parar, silêncio. E só. Onde? O que? O que é isso? Sonho, só pode ser. Silêncio. Só pode ser. Respira e acorda. Respira. Acorda. Acorda! Silêncio. Mas que diabos é isso?!? Alguém? Alguém?!? Que droga de sonho maldito! Silêncio. Era só o que me faltava, ficar com medo como uma criancinha idiota por causa de um sonho. É castigo todo poderoso? Juízo final? Vou ser condenada ao inferno pelos meus pecados? É isso? ALGUÉM! Silêncio. Enfim, pleno silêncio. Cala-te criatura, engole teu ego. Não é um sonho. Nem juízo final. Muito menos um todo poderoso. Quanta audácia a sua. Não é nada mais do que você mesma. Nada mais do que se tornou em prol dos teus objetivos. És tu, seca, gélida, só. Quantas conquistas! Olha a tua volta. Lindo não? Conquistou o mundo. Está ai, todo seu! Senhora toda poderosa. Não é nada mais do tu mesma. Só. Exclusivamente só. Tu e tua consciência.

As lágrimas secas marcavam seu rosto bem feito. Subitamente levantou-se em direção ao closet onde cabides pendiam vazios de um lado e super abarrotados do outro. Na parede coberta por um espelho seu reflexo estremecia ritmado com os soluços da sua dor. Dor moral, muito mais intensa do que qualquer estridente dor corpórea.
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Credo, esse texto saiu do nada. Sonhei com alguma coisa parecida de ontem pra hoje. Acordei e escrevi. Entao te fresquinho haha.

Obs: Eu e o velho estamos fazendo umas mudanças aqui... E aceitamos opiniões! Aqui quanto mais críticas melhor, quanto mais esculhambação melhor. Adoro gente que esculhamba = ) Então fiquem a vontade.
Abraços! Feto.

obs: eu fiquei até constrangida de pôr abs aqui, alguém disse que parece absorvente! hahaha

Ciranda

Tinha mania de poetisa. Por isso sempre insistia em marcarem os encontros naquela praça. Achava aquele lugar lindo e inspirador. O namorado não via nada de especial ali e sempre dizia que marcar encontros em praças era coisa do século passado, mas acabava concordando. Tinha que convir, ele não tinha sensibilidade alguma, ainda mais sua aguçada sensibilidade poética! Ela, sim, era uma artista.
Naquele dia, ela era uma artista ansiosa. Adriana não via Samuel há duas semanas por causa da droga do trabalho dele. Apoiara-o quando ele quis aceitar o emprego, mas não gostava nem um pouco de ver o garoto colocando colares luxuosos nos pescoços daquelas madames emplumadas... Mas o salário era muito bom considerando que Samuel abandonara a escola no segundo ano do ensino médio. E, ela não podia negar, foi graças ao desconto para funcionários que ele conseguira comprar o anel.
Adriana levantou a mão para vê-lo, pela milésima vez. Uma beleza! Ela não sabia que pedra era aquela, mas bastava olhar para se saber que era muito valiosa. Beijou-a com carinho. Era vermelha, como os lábios de Samuel. Sua mãe não gostava que ela saísse exibindo o anel – tinha medo que pudesse atrair assaltantes. Mas a moça queria mostrar que valorizava o presente do namorado, afinal, deveria ter sido comprado à custa de grandes sacrifícios.
Mas, pensou levemente irritada, Samuel não era o único a fazer sacrifícios. Era ela que tinha de suportar todas aquelas manias horríveis. A última e pior de todas aparecera de uma hora para outra: fumar. Sabe-se lá de onde tirara isso. Provavelmente algum daqueles odiosos colegas de trabalho. Da última vez que se viram haviam discutido feio porque Adriana se recusara a beijá-lo ao sentir o gosto das cinzas na boca do namorado, mesmo que ele alegasse não ter fumado.
Ela fechou os olhos e pensou “o amor tudo crê, tudo suporta”. Tinha um verso pronto para rebater cada desdita que o namoro lhe causava. Naquele dia, ela não queria brigar. Sempre que ele reclamava quando ela saía sem lhe avisar, quando ficava zangado porque ela se recusava a transar, sempre que ele perdia a cabeça quando ela dizia que não podia sair pois precisava estudar e que ele deveria fazer o mesmo, ela suspirava. “Amo-te enfim, de um calmo amor prestante, e te amo além, presente na saudade”. Ela sabia muito do sofrimento que o amor implica, mesmo quando a dois. Mas acima de tudo, lembrava a sim mesma, conhecia suas delícias.
Sacou da bolsa o caderninho que sempre levava consigo e um lápis. Resolveu compor uns versos para seu amado, mais versos para acrescentar a tantos outros que ele jamais vira ou veria. Olhou o papel por alguns segundos e ergueu a cabeça, concentrada. A inspiração, porém, teimava em não vir. Ao seu redor, buscava algo que lhe lembrasse o namorado. Então um pensamento como que lhe bateu à testa: o anel!
Tirou lentamente a argola do dedo e pôs-se a rola-la na mão. O anel... o anel... o amor... o amor.... o amor...
Foi então que o anel lhe escapou dos dedos.
Abaixou-se para pega-lo. Para sua surpresa, a pedra se partira. E de repente, Adriana compreendeu que já sabia o que escrever.


Samuel chegou com uma bala de hortelã na boca para disfarçar o hálito de cigarro. Estranhou não ver a namorada, ela sempre chegava tão cedo... aproximou-se sobre o banco em que combinaram de se encontrar avistou o anel que lhe dera envolvendo uma folha de caderno. Abriu-a e leu:

“O amor que eu te tinha era pouco e se acabou”

Nunca conseguira entender aquela menina. Tinha mania de poetisa.

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Não gostei desse, tá uma pieguice dos diabos =P
Tava com um monte de coisas na cabeça pra escrever aqui, mas esqueci tudo XD Então aproveitem o txto e como diria a Guria, "leiam e esculhambem".
Té mais!

"Livróide"

Já passavam das 5 da manhã e os bolachudos olhos de Sofia ainda mantinham suas pálpebras repelidas observando o teto. Ah o teto! Como um dia disse um amigo, “aquele grande conversador”. Sofia fitava-o acima do seu corpo confortavelmente deitado, desenhando sobre a tinta branca as cores de sua imaginação fértil e madura. Estas respondiam refletidas em pensamentos, tagarelavam o que Sofia queria ouvir e divertiam com sua tonalidades graciosas.

Mas não hoje... Agora o teto escurecia acima do seu corpo contorcido, seus olhos esbugalhados ao passo de sacarem da órbita. Seu coração padecia aos pulos como se tentasse escapar da prisão perpétua do peito ofegante. Braços incontroláveis espancavam a si mesmos e ao ar. Maldito ar que fugia dos seus pulmões enfraquecendo todo seu corpo. Da sua boca espumante súplicas imploravam por liberdade. Desesperadamente era possível distinguir entre os movimentos bruscos um grito em consciência. Enfim delírio. O solo desertificou-se. O teto escurecido calou-se e Sofia pairou sobre as cores vivas do sangue escorrido.
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Caramba como é relaxante escrever =D ufa!
Esse texto pode parecer meio sem nexo, mas é pq é uma parte de um "livróide", uma ideia só. Ai queria testar-la, vê se vcs gostam pra saber se vale a pena continuar. Não gostei muuuuito dele, nao desgostei, mas ainda quero mudar umas coisas. Aceito opinioes! Críticas sao sempre bem recebidas =P
Abs!
Márcia.

A recusa

- Com licença, a senhora gostaria de se sentar?
- Não, meu amor, muito obrigada.
- Tem certeza?
- Sim, não se preocupe, estou bem.
Dei de ombros e voltei para o meu lugar. Então a velhinha era orgulhosa. Portava-se com uma altivez incomum, que destoava de suas roupas simples e olhava pela janela com tal seriedade que parecia encarar alguém com quem estivesse prestes a ter uma conversa importante. Talvez enxergasse o seu próprio reflexo? Não, aquela não era uma recusa motivada por simples orgulho. Era resolução de alguém acostumado a sofrer.
O que continha essa resolução? Resignação? Força? Coragem? Eu podia ver os nós dos dedos dela embranquecerem com a força que fazia para segurar as barras de ferro nas curvas. Quantos trancos, barrancos e solavancos já teria enfrentado aquela senhora, meu Deus? Quantas vezes crispara aqueles punhos sem poder usá-los, quantas vezes ela juntara aquelas mãos e caíra de joelhos para pedir que Sua Santa Mão viesse em seu socorro? E, no entanto, ali estava ela: os nós dos dedos e os lábios pálidos, sustentada apenas por sua fé, essa fé cega que remove montanhas mas não enche o prato de comida. E os lábios pálidos, dois riscos alvos em uma pele já violentamente castigada pelo sol.
Olhei para os meus braços e senti uma onda de vergonha pela minha pele clara. E eu, pelo que lutei em minha vida? Eu, que me vanglorio de conquistas alheias, quando obterei as minhas próprias? Aquela velhinha, apesar do corpo frágil e dos cabelos brancos, aquela era uma guerreira. E talvez nem soubesse disso. Talvez pensasse ser apenas mais uma na multidão, talvez sequer tenha pensado alguma vez sobre sua ínfima condição de ser humano neste mundo. Contudo, aquela mulher era uma vencedora. Ainda que não tivesse chegado a lugar algum, ainda que nunca tivesse conquistado nada. Era uma vencedora por estar viva e por ter algo que a fizesse continuar a viver.
Olhei para mim mesmo de novo. De que servia minha camisa de marca, meu tênis da moda, meu celular último tipo? Aquele ônibus para mim era uma aventura; para ela, mera locomoção, talvez até um corriqueiro incômodo cotidiano. “Não se preocupe, estou bem”. Era uma vencedora e foi a mim que ela venceu. Porque vivia, ainda que com menos posses. E acreditava, sem ter motivos para isso. E eu que em nada acredito e minhas conquistas, que são apenas castelos de areia.
A mão dela puxando a corda do ônibus me informou que ela desceria no próximo ponto. Olhei pela janela. Era um bairro pobre da cidade e estava bem deserto para um fim de tarde de segunda. Não vi ninguém nas imediações, nem os tradicionais bêbados ou as crianças brincando de sempre.
Ela ficou em frente a porta e, quando o ônibus parou, ela desceu vagarosamente. De súbito, tomei uma decisão. Puxei a alça da minha mochila e a segui porta afora.
Eu a segui quando ela dobrou a esquina, entrando em uma rua mais deserta ainda, composta quase que exclusivamente por casarões abandonados ou estabelecimentos que àquela hora já estavam fechados. Eu joguei a mochila para frente do meu corpo com um movimento ligeiro, abri o zíper e pus a mão lá dentro.
- Com licença, senhora.
Ela se virou. Antes que eu ou ela pudéssemos pensar qualquer coisa, assassinei-a com cinco tiros. .
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Eu até gostei desse textinho aí. Raro eu gostar de um texto meu. Acho que é porque esse foi um dos únicos que eu li e não consegui associar diretamente com nenhum outro XP

Adelaide indo pro Canadá T.T Minga vindo pra São Luís =DD Tempo de vagabundagem acabando T.T Eu quero ir ao cinema! Tive que ver 'Principe Caspian' pirata porque não arranjei companhia pra ir ao cine! Oo'

É, tava sem muitas idéias pra escrever besteiras aqui...

Sem título

Para Thainara Silva

Silêncio. A quietude pode ser bem inquietante às vezes. Nós chegamos e nos sentamos lado a lado. Acho que nunca fiamos tanto tempo juntos em silêncio. Somos dois notórios tagarelas, sabíamos, e ainda assim não falávamos. Claramente, algo havia de errado. Mas, engraçado; nada parecia haver de errado. Será que havia? Estaria zangada? Triste? Chateada? Simplesmente cansada de falar o dia todo? Ou estaria levantando teorias semelhantes a meu respeito? Não sabia e o silêncio ainda imperava.
Mas, silêncio? Enquanto eu pensava nos seus pensamentos, pensava também que talvez o silêncio esteja em nós e parta de nós. O silêncio é centrípeto. Porque havia o motor, havia o pedinte, havia o moleque, os solavancos e as frutas rolando pelo chão de alumínio (ou seria outro metal?). Havia barulho, mas o silêncio entre nós calava o mundo. Não sei se somos íntimos o bastante para conversarmos calados. Mas somos o suficiente para aquietarmos lado a lado.
Desconheço o que pensavas – se pensavas -, o que se passava em ti, o que pensavas de mim ou de tudo. Mas sei calar a boca, embora não saiba calar a mente (e não posso, ah!, como eu gostaria de poder calar o que quer que te inquiete). E talvez meu silêncio seja mais precioso que minhas palavras. Portanto, não se preocupe amada; estarei aqui sempre que precisares do meu silêncio. E quando quiseres quebrá-lo também.
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Fiquei muito feliz de achar esse texto, não pelo conteúdo dele, mas porque eu o fiz em homenagem a uma pessoa muito especial por uma situação que nós vivemos (te amo, Nara! =D). Foi uma ótima oportunidade de pensar um pouco sobre o silêncio.
CARA. TRAGÉDIA. 12 de junho e eu, "mais um nerd sem vida social" (definição de Ana Áurea), fóssil na fossa, resolvi e ir jogar video game - não que isso seja de hoje, nem que seja video game de verdade, é só emulador pra PC, mas tanto faz. Bom, quem já jogou 'Castlevania - Symphony of the Night' pra PS1 sabe a desgraça que é pra achar todas as relíquias, itens, armas, familiares, etc. Estava eu revirando o diabo do castelo do Drácula ao avesso e já estava quase pronto pra batalha final. E aí, o que eu faço? DELETO O ARQUIVO! PORRA! CARA, QUE ÓDIO! Eu tava em 84%! 84! E agora eu vou começar do ZERO! Dá vontade de morrer e matar! Video game é quase tão injusto quanto a vida (aliás, venho fazendo observações sobre os video games, ainda vão me render um texto pro Casulo, espera só). Mas enfim, lá vou eu de novo. Deprimente isso! Feliz dia dos namorados (um pouco atrasado) pra todo mundo!
PS: É, talvez mais deprimente seja eu ficar deprimido por causa de VIDEO GAME em pleno dia dos namorados. Ana, tu tem toda razão XD

Segunda

Ouvi um barulho e fui ver
Era o mundo que se abria
Sol nascendo com trombetas
E cores de algodão no céu
Mas não, não é sobre isso que quero falar hoje

Ouvi um tiro e fui ver
Era o mundo que chorava
Graves senhoras vestidas de preto
E procissões intermináveis de velas acesas
E preces e pragas e mais tiros
Mas não, não é sobre isso que quero falar hoje

Ouvi um estrondo e fui ver
Era o mundo que caía
E caíam exércitos inteiros, inertes,
De homens, de árvores, de estrelas, de anjos
E a chuva e o mar ficaram vermelhos
E discos voadores fugiam apavorados...
Mas não, não é sobre isso que quero falar hoje

Quero falar da risada que ouvi e fui ver
Era o mundo que nascia
Mas e agora, quem vai olhar pelo mundo bebê?
Não o poeta, que não pôde renascer
Mas talvez a poesia, que nunca deixou de viver
O certo é que precisam cuidar do mundo
Mas não eu, não hoje

Hoje eu prefiro olhar a lua
E me aconchegar nos braços da solidão
Hoje não quero falar sobre isso
Que hoje não é dia de fazer poesia

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Carlos, pára de usar tóxicos e aprende a fazer finais XP

O homem que ouvia

O Sr. José chegou em casa e ouviu todas as coisas sussurrando.
No mesmo instante, milhares de clichês surgiram em sua mente e ele os foi descartando um a um. Não estava doente, não tivera um dia cheio de trabalho, não sentia fome, cansaço ou sono nem muito menos bebera demais – de fato, sequer havia bebido. Mas os sussurros ainda persistiam, ainda que ele dissesse a si mesmo (ou será que dizia a eles?) que era cético, que sua mente lhe pregava uma peça – embora até aquele momento ela nunca tivesse mostrado predisposição para tais bobagens.
Rapidamente, o medo que deu lugar à incredulidade cedeu vez à impaciência. Por quanto tempo mais continuaria a ouvir aquelas vozinhas ininteligíveis, mesmo convencido de que não existiam? Que fazer numa situação daquelas? Lentamente dessa vez, o Sr. José de impaciente foi ficando curioso. Que será que diziam os sussurros? Sentou-se então num banco de sua sala-cozinha, mal se atrevendo a respirar, na esperança de entender as vozes – que, é claro, eram produtos da sua até então infértil imaginação.
Então ele ouviu as coisas... e as coisas lhe contavam tudo sobre elas próprias.
O Sr, José descobriu estarrecido que havia beleza na água do copo e na fruteira; no tapete macio e nos azulejos da parede; na geladeira e no fogão elétrico; havia beleza nas cebolas, nos tomates e nas batatas. Ele soube dos guinchos de protesto da panela de pressão, das lágrimas das cebolas e dos maracujás rabugentos, que viviam de cara fechada.
O Sr. José ouviu tudo e tapou os ouvidos porque decididamente perdera o juízo.
Tomou um banho às pressas, enfiou-se no pijama e deitou-se. Uma noite de sono e esqueceria tudo aquilo. Mas... como dormir? Como ignorar tudo o que agora sabia? Como conseguiria dormir com todos os sussurros ecoando por cada neurônio seu? E, maldição, as coisas do seu quarto começavam a falar também. Não havia alternativa.
Pegou uma caneta e arrancou uma folha de um velho caderno. Escreveu febril, a mão trêmula, mas consciente de que aquilo era necessário. Mais de uma hora depois, largou a caneta sobre a folha e voltou para a cama. O rosto, tranqüilo. As coisas, quietas.
Não apenas ficara louco: ficara poeta.






Mais um pra série 'textos toscos e sem-noção de Carlos'. Só uma coisinha leve que eu escrevi outro dia =] Aí como tava sem nada pra postar e o blog não pode ficar abandonado resolvi postar. A propósito, o Casulo estava abandonado porque minha net não tava prestando, voltou hoje! \o/ Então vou tentar escrever mais e postar mais. ^^ Falou, pessoar.

Confissão do dia

Adoro mentiras bem contadas. Por isso confesso as minhas.
Confesso que enganei e manipulei tudo que pude. Cuspi na tua cara, no teu chão, sujei tua rua. Nua e crua fui puramente cruel. Derramei lágrimas enquanto muitos morriam de cede, brinquei na chuva, sem culpa. Fui tão repugnante quanto fui capaz de ser, o seria mais se tivesse tempo, pois essas palavras não traduzem arrependimento, muito menos lamento. Não prezo por absorção, apenas confesso minhas mentiras.
Confesso cada flecha lançada, cada ferida não cicatrizada. Roubei aqueles que me achava no direito de roubar. Aniquilei tudo que me condenada. Calei cada grito que me afligia. Beijei cada boca que me enlouquecia. Por amor, por prazer, por nada, pelo simples ato de ser. Fui sórdida! Lambuzei-me nos braços da vida, suei meu corpo e acalantei minha alma obscena. Entreguei-me perdidamente aos pecados. Da carne, do espírito, todos possíveis e imagináveis.
Inventei vidas e destruí sonhos, sufoquei esperanças e desmenti confianças. Julguei os justos e condenei benevolências. Assassinei santidades e enterrei suas “pseudo-glórias”. Fui eu quem te fez caluniar, difamar. A culpa do tudo é exclusivamente minha. Grandiosamente minha. Por isso orgulho-me densamente de meus feitos.
Sou a pedra no sapato furado dos santos, o calo de sangue dos deuses. De vaidade em vaidade aprendi a arte de ser cruel. Afinal futilidades são tão estúpidas e divertidas! Ao contrário dos corretos sou verdadeiramente feliz. Não finjo sorrisos superficiais, me divirto com lágrimas abissais. Não aborto sortes, apenas dou-lhe na dor do parto o embrião da real fortuna, a aptidão de bolar mentiras bem contadas... E confessá-las.
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Ahhhhhhhh aleluia! Finalmente consegui terminar esse texto. Tudo bem que ele não ficou La grandes coisas mas só a sensação de postar já alivia a alma. Queria ate pedir desculpas pelo sumiço, é que a vida ta agitada. Mas vou tentar me programar melhor pra não deixar o velho na mão sozinho por aqui.
Abs medonhos pra todos!!

obs: Saudade suprema de Marc. Fiquei muito feliz de te ver aqui homem!
obs': Caramba que feliz ta escrevendo!!
obs''; O velho odeia meus "obs" hsuahsuahhsuas.
=D

Das Almas Gêmeas

Nenhuma alma é inteira. Antes de vir ao mundo, a alma se parte e cada pedaço encontra abrigo em um corpo diferente. Nenhuma vida é inteira até que esses corpos se encontrem, até que as almas se completem.
Não é uma tarefa fácil. É possível que algumas de suas almas gêmeas já tenham vindo ao mundo quando você chegou. Também é possível que outras ainda estejam por nascer. É possível que não as reconheça da primeira vez que as vir. Talvez leve tempo também para admitir o quão importante elas são para você e você para elas.
Paciência. O tempo nem sempre é inimigo do homem. O tempo, que destrói monumentos, não destrói almas. Você não precisa perder a vida procurando. A vida se encarregará de te colocar frente a frente com os outros pedaços da tua alma. Nesse momento, caberá a ti a parte mais difícil:
Enxergá-las.
Vais reconhecer nelas algo de ti e algo que lhe falta. E vais sentir que não poderá mais ser completo sem estas pessoas. Vais sentir que a partida delas te dilacera.
Mas também deves lembrar que medidas, distâncias, são aflições que só o corpo conhece. Almas são estágios superiores, vivendo em mundos superiores. Mundos perfeitos onde não há distâncias, nem tempo.
Deves lembrar que tens a responsabilidade de carregar este mundo dentro de ti, o mundo em que estão todas as tuas almas gêmeas. Se o perderes, nada restará. Serás uma concha vazia, uma casca. Oco.
Tu és o único que pode separar tuas almas gêmeas de ti. Se queres um conselho, não o faça. Uma alma partida torna-se irremediavelmente incapaz de encontrar felicidade inteira. E uma alma plena nunca precisará conhecer o horror de se viver pela metade.




Eu não queria postar esse texto ainda porque ele tem uma série de coisas que me desagrada, especialmente o final. Talvez por não tê-lo escrito todo em um só dia, eu perdi a linha de raciocínio e a inspiração. Se um dia eu as recuperar, prometo refazer o texto e postá-lo novamente. Por ora, eu precisava postar alguma coisa senão Bitenco atentaria contra a minha integridade física. Afinal, eu estou "vagabundando até o segundo semestre" XD
Pra encerrar, convite: galera, vamos no show do Nando Reis e Zeca Baleiro que vai ter na Batuque Brasil dia 25 de Abril (notaram a rima entre Brasil e Abril? XD)! Vai ser massa! E também é aniversário da aqui já mencionada Bitenco! XD Vamos!!!

Inetrlúdio.

Galera, sei que esse blog tá meio bagunçado, mas tudo tem sua razão de ser. A pobrezinha da feto tá se matando com esse terceiro ano - que uma hora ou outra chega para quase todos - estuando de dia, de noite e também nas outras horas =/ Daí´vocês não estarem vendo muito o nome dela por aqui ultimamente. E eu não tô achando a maldita pasta com meus textos e não tenho mais nenhum digitado. Se bem que não tô fazendo muito esforço pra achar a pasta, afinal eu tô de férias XD

Só por post não passar em branco, aqui vai um poema de um livro do Fernando Pessoa ("Conversa com Fernando Pessoa" do Carlos (nome bonito! XD) Felipe Moisés [nossa, agora que eu reparei, são três primeiros-nomes Oo] - ALTAMENTE RECOMENDADO =D). Li esse ainda agora e achei muito legal, apesar de nem ser de um dos meus heterônimos preferidos. Ei-lo (e até o próximo post, seja meu ou do Feto!):

"Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra,
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser."

Ricardo Reis

Diálogo - Parte 2 (Final)

Obrigado pela paciência, aqui está a parte dois do miniconto. Eu resumi um bocado pra caber em dois posts sem ficar muito chato, mas creio que não houve prejuízos. Eu ia falar sobre o texto, mas é melhor não me alongar. Eis a parte dois:


- Sabe, existem muitos como você por aí. Entram no quarto com a faca da mãe em punho e rasgam os pulsos, lamentando por serem tragicamente incompreendidos pelo mundo. Ou se afogam em drogas – riu, um riso tão frio que até me assustou – E ainda acham que o que fazem exige muita coragem da parte deles. Pois sim! Precisam é ser muito egoístas para fazê-las!
- Quem você pensa que é pra julgar alguém? Aliás, é fácil julgar de fora...
- Eu penso que sou alguém esperto o suficiente pra ficar de fora, panaca. Esses caras são fáceis de ler. Tem aqueles que ainda dizem que se drogam por causa da sua ideologia né? Porque estão desafiando o sistema! Deus os abençoe. – acrescentou, sempre irônico - Acham que são espertos, mas são ingênuos o suficiente pra não enxergarem que são eles que alimentam o sistema.
Gargalhou. Os piores pensamentos já haviam passado pela minha cabeça e eu estava a ponto de fazer uma loucura. Mas ele, é claro, ainda não tinha cessado fogo:
- E você? Já fuma o seu baseado?
- Eu?! Ficou maluco?!
- Não sei, você também é desses que acham que desafiam o sistema, que vão fazer uma revolução. Que monte de bosta! E ainda anda por aí com uma camisa de Che Guevara... Se ele soubesse o tipo de gente que diz ter herdado seus ideais...
- Que tipo de gente? – desafiei
Ele se calou de repente. Estava escuro, mas eu poderia jurar que me fitava atentamente.
- Esse tipo. Um covarde, um merda. Fica pregando a revolução, mas não tem coragem de enfrentar nem a si próprio.
- Ah, cala a boca.
- É muito fácil, cara. Sair por aí sentindo pena dos pobres que tu olha do lado de dentro do vidro fume do carro do teu pai. E o que tu faz por eles, me diz?
- Cala a boca.
- Tu acha mesmo que tu vai mudar o mundo? Que vai fazer a diferença? QUE DIFERENÇA, SEU IMBECIL? Nasceu aquele bebê lindo, orgulho da mãe. Cresceu ótimo aluno, sempre com um boletim exemplar na escola. Aí ele sai do colégio e vai fazer um curso bem tradicional na faculdade. Se Deus quiser, vai ser um jurista ou até um doutor! Que orgulho, um médico na família.
- Cala a boca!
- ... e ganhar rios de dinheiro, esquecer quem um dia lhe ajudou e terminar seus dias atrás de uma mesa escritório. Que diferença, hein? Isso sim que eu chamo de revolução! Uma vida brilhante...
- Cala a boca! – que droga, meus olhos começavam a ficar marejados.
- E, adulto, vai ser corrompido do mesmo jeito que todos antes de ti, os mesmos que hoje condena. E vai dar risada daquilo que chamará de “euforia adolescente”.
- Cala a boca!
- E vai olhar no espelho e se achar bem-sucedido. Cercar-se de ouro de tolo. Vai morrer tranqüilo porque alcançou tudo aquilo que desejava, tudo com o que sempre sonhou. Aliás, uma vida inteira de tranqüilidade, longe daqueles sonhos de levante armado contra a burguesia. Vai casar, ter filhos e censurar qualquer “barulho” ou “baderna”... e vai infectar a tua prole com o mesmo germe da comodidade pra que eles continuem com o grande projeto da raça humana! Não é uma beleza?
- Cala a boca, cala a boca, CALA A BOCA!
A luz do quarto acendeu, de repente. Da porta, minha mãe me olhava assustada:
- Filho, com quem você estava falando?
Meu olhar correu rapidamente pelo teto, antes que se detivesse na minha mãe eu respondesse:
- Ninguém, mãe. Foi só um pesadelo.
- Ah...certo. – o tom de voz dela não parecia convencido – Tenta dormir agora, ta bom, filho?
Enrolei-me nos lençóis. Minha mãe ia fechando a porta mas tornou a escancará-la:
- Escuta, filhote, eu estava pensando... que tal amanhã depois da escola nós darmos uma passada no shopping? Lá quem sabe podemos comprar alguma coisa pra você...uma roupa nova ou outra coisa que você esteja querendo. Não é uma boa idéia?
Assenti. Ela sorriu e disse “então boa noite”. A luz apagou de novo e a porta se fechou. No escuro, ouvi risadas abafadas vindo de algum lugar acima de mim.

Nova forma de postagem para textos narrativos! ;D

Bom, eu conversei com o Feto a respeito e é justo colocar os possíveis leitores - afinal são vocês que vão ler né? XD (colocação brilhante, =P). Eu gosto muito de fazer textos narrativos, mas em geral me empolgo e eles ficam grandes demais (prolixo, pro lixo - né Ana? =D). Então nós decidimos que eu vou postar por partes. A primeira agora, a segunda na próxima semana e - se for o caso - a terceira na seguinte. Por enquanto, fiquem com a primeira parte do texto. No próximo post, eu contarei - como de praxe - como ele surgiu. Espero que gostem e obrigado por lerem! =D



Diálogo

- Oi de novo.
- Ah, cala a boca. Não to a fim de papo contigo hoje.
- Oh, pobrezinho – caçoou o outro – parece que o menininho está em mais uma de suas crises de adolescente – e pontuou com um suspiro sarcástico.
- Vá à merda!
- Vá à merda você pirralho, e seus gritos também. Tu não é o único de saco cheio do mundo aqui.
Há muito tempo eu não era criança o suficiente para me irritar quando me chamavam de criança. Vindo daquele cara, entretanto, o tratamento me enfurecia. A voz daquele desgraçado, com quem eu tinha a infelicidade de dividir o quarto, soava aos meus ouvidos como unhas arranhando um quadro-negro. Se você já passou por uma experiência parecida, talvez saiba como é: minhas entranhas reviravam sempre que eu voltava para casa, pois sabia que teria que encontrar o maldito.
- Sabe, não dá pra entender certas pessoas. Como o garoto tem tudo, de dinheiro a uma boa família e ainda se acha no direito de entrar no quarto soltando fogo pelas ventas e chutando a porta como se fosse...
- Escuta, quer calar essa boca e me deixar em paz? – gritei.
Eu sei, muitos chamariam essa minha raiva de irracional, sem motivos. Mas eu duvido que esses “muitos” tenham convivido com um sujeito como aquele. Ou que fossem loucos como eu. E ademais, qual é a raiva que não tem suas pinceladas de irracionalidade?
Naquele dia eu estava particularmente impaciente. Não havia sido o meu dia, como dizem. E eu certamente não estava com disposição alguma para suportar aquele imbecil.
- Cara, vamos fazer um acordo? Eu fico aqui na minha cama, quieto, e tu também fica na boa aí. Eu não te incomodo e tu não me incomoda e fica tudo bem, beleza?
- Que foi, levou um fora? – desgraçado – Eu sabia! Caramba, você é muito mole mesmo! – e gargalhou.
- Isso não é da tua conta!
- Claro que não. Mas não faz diferença – dá pra acreditar? – E aí, o que tu vai fazer agora?
Calei-me. O que diabos ele esperava que eu fizesse? O que diabos eu poderia fazer em uma situação como aquela? Mas obviamente, ele não esperava uma resposta:
- Eu sabia – como eu detestava aquela mania de “eu sabia” – Afinal, tu é um homem ou o quê?
- Ta certo, garanhão – retruquei, irritado – Você faria o quê?
- Bem mais do que ficar deitado na minha cama, mergulhado em auto piedade. Que papel ridículo, francamente! – disse ele, num tom que eu não conseguir distinguir entre censura e galhofa – Tu não passa de um bostinha metido a intelectual que nunca vai até o fim em nada e depois fica se lamentando. Patético!
- Você não entende – murmurei – Você não sabe nada sobre mim
- Ah, pelo amor de Deus! Tenha santa paciência! Com você é sempre desse jeito: “Ninguém me entende”, “Ninguém me quer”, “Ninguém sabe quem eu sou de verdade, pobre de mim”. Acha que o mundo gira em torno do teu umbigo? Você acha mesmo que é assim tão complexo, tão difícil de entender? Você é ridículo, simplório. E só admite isso quando quer que lhe digam o contrário.
Eloqüência maldita. O infeliz tinha o dom da oratória. E isso me irritava ainda mais, eu nunca fui bom falando. E o pior era vê-lo falando do lugar onde eu ficava... sempre ele lá no alto e eu tendo que olhá-lo de baixo! Como isso me incomodava! Parecia que isso só atestava que ele era superior, que era melhor que eu.

Sonhos

Ontem, quando eu acordei e abri os olhos, vi Deus. Sentado ao meu lado com aqueles típicos cabelos grisalhos e seus olhos calmos, que brilhavam com ar de quem sabe tudo e sorriam com ar de quem está cansado de saber.

Tinha o semblante sereno, porém terno. Suas mãos exalavam, ao mesmo tempo, poder e gentileza. Era tão distinto quando o mundo que criara e tão astuto quanto suas crias. A pluraridade do seu ser não me deixa descrever suas formas com clareza, apenas o brilho da sua alma por mim pode ser memorado.

Pousando suas mãos sobre meus ombros, disse-me o quanto eu fora tola de supor sua ausência. Quanta ingenuidade me fez pensar que era capaz de saber lago além do que vejo. Sua voz era o silêncio, mais íntegro e confortante que já fui capaz de ouvir. Cada uma de suas palavras era nutrida a base de ternura. Espantou-me tanta candura vinculada a tanta imponência. Sua simplicidade ao estar, contrariava sua majestade ao ser.

Preencheu o vazio da minha alma, transformando-a em liberdade. Enxugou minhas lágrimas descontroladas convertendo-as em orvalho. Calou meus soluços e fez deles melodia. Apagou minhas dúvidas resumindo-as em poesia. Acalmou meu corpo trêmulo com um sopro em harmonia. E cerrou meus olhos transformando-me em sonhos...
E então abri os olhos e vi Deus.

29/08/2007
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Na verdade nem lembro quando nem onde escrevi esse texto. Ele simplesmente apareceu no meio das minhas folhas. Mas ta la escrito com a minha letra e assinado...mas deu branco, rsrs.
Ahh tava com saudade de postar, ta dificil ter tempo pra respirar. Mas vamos em frente, a gente da um jeito...Abs :-)
Márcia



O dia da minha morte

Hoje eu fiz uma escolha. Cheguei em casa e ela ainda era a mesma. Deixei as chaves sobre a mesma e resolvi beber um copo d’água. A cozinha, que alguém – que não sou eu – se esmera para manter limpa, continuava a mesma: os copos ao lado dos talheres e as facas brilhando, sedutoras. Um leve tremor percorreu o meu corpo. Pus o copo na pia e fui para o quarto.
Hoje eu fiz uma escolha. No meu quarto, minha cama acolheu, piedosa, meu corpo fatigado. Senti meus ossos estalarem e um suspiro encheu meu peito e escapou da minha boca com um leve gemido. Eu estava cansado. Ergui meus olhos marejados para o meu tradicional conselheiro, o teto. Como sempre, ele tagarelava sem parar. Virei o rosto. Hoje, nada do que o teto dissesse poderia me dissuadir. Principalmente por causa dos dias que haviam se passado.
Há pouco, eu saí para ver o mundo. Mal o conheço e ele já é meu inimigo. Cada vez que tento respirar, ele me rouba oxigênio. O mundo me adubou, me fez crescer e agora que começo a esticar meus galhos, ele se volta para me podar. A cada esquina, o mundo me espreita com sete pedras nas mãos. O céu segue nublado. O mundo me encara desconfiado e eu devolvo seu olhar com medo. Medo. Medo e dor. E eu não esperava mais que isso da vida, pois a vida é feita de sofrimento.
E é por isso que eu fiz uma escolha. Hoje é o dia da minha morte.
Decidi matar essa pessoa que se esconde e que se humilha. Decidi que não vou mais rastejar, mas terei a grandeza de pedir perdão. Decidi morrer como humano e cada dia ir além dos limites que dizem que o ser humano tem. Por vezes eu serei egoísta, com certeza irei mentir. Sentirei tristeza, saudade, mágoa. Guardarei rancor. E vou bendizer cada um desses sentimentos que um dia me causaram vergonha, pois eles, que fizeram de mim humano, vão me ajudar a ser mais que isso.
Se o mundo é meu inimigo, eu estarei de pé para combatê-lo. Não tenho armas, mas tenho braços, tenho pernas, tenho dentes. Tenho voz e idéias. Se nada disso me restar, tenho sonhos...e o poder da minha utopia é maior que o próprio mundo. Vou receber todas as pedras que o mundo quiser me atirar e o sangue das feridas me ajudará a entender que eu estou vivo e cada cicatriz será uma medalha. E não estou sozinho; para cada mão que me estapear, uma dezena de outras vai me afagar e me ajudar a ficar de pé. Quando o mundo me olhar, vou fazer careta. Se chover, vou brincar e cantar na chuva.
A vida é sofrimento. Mas eu sou humano, tenho direito a sofrer. E também sou mais que humano, não me curvarei perante a dor.
Hoje eu fiz uma escolha. Levantei-me da cama e fui até a janela. O vento frio me fez sorrir. Morrer ás vezes é bom. Principalmente quando se sente o sabor da nova vida que nos aguarda.




Eu fiz esse texto depois do show do Teatro Mágico, ou seja, no dia 19/02. E só hoje fui digitar, porque tinha que postar algo no blog. Preguiça nível épico... Tá um texto meio longo e cansativo, desculpem, espero que alguém tenha paciência de ler ^^
Falou, pessoas!